A Lei Federal 10.639/03, que institui a obrigatoriedade do ensino de História e cultura afro-brasileira e africana na rede pública e privada de ensino, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e foi, sobretudo, decorrente da atuação de agentes interessados em disputar os saberes produzidos/socializados na escola ao denunciar a subrepresentação negra nos materiais didáticos e eixos curriculares. No sentido de colaborar com o panorama de pesquisas sobre esta temática, objetivamos, com esse artigo, que configura-se enquanto um recorte temático de uma pesquisa de mestrado desenvolvida em âmbito de um Programa de Pós Graduação em Educação, retomar os processos que culminaram com a aprovação da Lei assim como interrogar as narrativas autobiográficas de três professoras negras sobre suas iniciativas na rede municipal de ensino, na cidade de Rio Grande/RS. Para tanto, inspiramo-nos no método biográfico orientado por uma perspectiva ancorada nos estudos do cotidiano. Com a investigação, desenvolvida entre 2013 e 2015, aprendemos o entrecruzamento dos marcadores “mulher”, “negra” e “professora” nas projeções de si sobre as corporalidades destas sujeitas. Assim, observamos como as táticas criadas pelas professoras na escola assumem configurações diversas frente aos esforços que buscam interditar seus conhecimentos e suas diferentes formas de entender os espaços e as práticas curriculares. Dessa forma, sua prática política e pedagógica, tensiona o androcentrismo e o racismo que, em últimas consequências, buscam destituí-las de sua autoridade epistemológica sobre o conhecimento produzido com/na a escola. Ao mesmo tempo, as docentes têm interpelado os movimentos curriculares, escancarando a fragilidade da harmonia imposta pelo silenciamento das diferenças culturais na escola.