Este trabalho de pesquisa filia-se à teoria da Análise de Discurso de linha francesa, desenvolvida pelo filósofo Michel Pêcheux (AD), e teve como objetivo compreender o modo como os discursos de um estudante do gênero masculino, em situação de privação de liberdade, produz efeitos de sentido de culpa e de arrependimento ao construir narrativas sobre a sua própria vida. A ideia foi refletir acerca do discurso de culpa e arrependimento presentes no gênero textual autobiografia, produzido por estudante da modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) Ensino Médio - que tem como condições de produção de seus discursos o cárcere, bem como aquilatar a importância da modalidade EJA na construção cidadã e intelectual para emancipação e construção da ressocialização desses sujeitos. A pesquisa, de abordagem qualitativa e de viés teórico-metodológico alinhado à AD, foi constituída a partir de uma produção textual autobiográfica que foi extraída, de forma aleatória, de uma coletânea de onze autobiografias produzidas por estudantes privados de liberdade. As discussões sugerem que o sujeito em situação de prisão é atravessado por um contexto de violência doméstica que constitui o seu ‘lugar de memória’ desde a tenra idade. O discurso de arrependimento, por sua vez, é constituído por interdiscursos religiosos que nos direcionam aos efeitos de sentido de mudança, no entanto, os nossos gestos analíticos também mostram que apesar de o contexto de violência doméstica ter sido uma constante na vida desse sujeito, este não se desfilia da formação discursiva (FD) machista e/ou patriarcal que o constitui.