Estudar as parteiras, rezadeiras e curandeiras, compreender e documentar as práticas tradicionais de assistência à saúde, espiritualidade e cura que essas mulheres desempenharam e desempenham em diferentes culturas e comunidades é contribuir para que os conhecimentos tradicionais, advindos de determinados povos, não sejam relegados ao passado e caiam no esquecimento. Pensando nisso, a presente investigação, por meio de entrevistas com a parteira, rezadeira e curandeira Gonçala Camelo de Araújo, buscou contribuir para a preservação de práticas essenciais em tempos que não havia amplo acesso aos cuidados médicos e, ainda hoje, em locais onde essas dificuldades permanecem. Além disso, essas práticas revelam o caráter sagrado envolvido nessas ações, em que, por meio da fé, as comunidades buscavam nas rezadeiras e curandeiras a cura espiritual para problemas físicos. Nessa perspectiva, propomos refletir sobre como os conhecimentos populares tradicionais se relacionam com a medicina convencional, analisando sua dimensão espiritual e cultural, assim como seu papel para os povos que dessa cultura compartilhavam. Contribuímos, assim, para relembrar a cultura das parteiras, rezadeiras e curandeiras, propiciando a preservação de memórias e histórias das popularmente conhecidas como detentoras das “mãos santas”. Tal proposta se fundamenta ao pretender registrar práticas que ocorriam e ainda ocorrem, que são passadas entre diferentes gerações e ainda ocupam, em menor escala, um papel importante em nossa sociedade.