Este trabalho tem como objetivo analisar o poder disciplinar investido sobre os corpos dos aprendizes na tentativa de forjar um corpo forte, obediente, ordeiro e masculinizado através das contravenções cometidas e punições aplicadas e registradas no Livro de Castigos da Escola de Aprendizes Marinheiros do Rio Grande do Norte na primeira metade do vigésimo século. Essas anotações tinham a função de registrar as ações que os aprendizes cometiam e eram consideradas como “faltas” pelos superiores, uma espécie de descumprimento das normas, portanto, uma postura considerada incoerente para futuros “homens do mar”. Discutimos os conceitos de disciplina e punição propostos por Michel Foucault (2014), a partir da descrição do panóptico enquanto modelo de vigilância constante, formas de poder exercidas sobre os corpos dos aprendizes. A intenção era adestrar suas vontades e gestos transformando-os em corpos dóceis e resistentes ao trabalho, contribuindo para a formação de uma certa masculinidade. Assim, pudemos observar os castigos aplicados e o que motivou o aprendiz a cometer, por vezes, repetidos “delitos” registrados no Livro de Castigos. Metodologicamente, nos apropriamos da análise do discurso de Michel Foucault (2012), por entender as formas de ler e sentir através dos enunciados as construções discursivas elaboradas sobre um dado acontecimento e a partir deles escrever uma versão da história. Conclui-se que os aprendizes mais “rebeldes” eram listados e punidos por resistirem ao modelo de poder empreendido sobre seus corpos, buscando a nosso ver, a produção de uma dita rígida masculinidade, própria das instituições militares.