Na escrita memorialista de Quarto de Despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus (2014), as tessituras poéticas de vozes femininas e a performance negra (ZUMTHOR, 2018) representam o eco de resistência de mulheres negras faveladas, mães solteiras, trabalhadoras braçais, segregadas, estereotipadas, escravizadas, que rompem a fronteira do racismo institucionalizado com seus corpos negros e com a escrita de denúncia. Essas narrativas, manifestações da tradição oral e seus agenciamentos performáticos, recriam passado e presente através de elementos memorialistas atemporais (BOSI, 2003); (FERREIRA, 2003). Nessa senda, propomos analisar de que maneira o estudo do texto literário afro-brasileiro de autoria feminina, Quarto de despejo, e as representações da memória, das vozes poéticas e da performance negra podem representar o fortalecimento das identidades afrodescendentes nos projetos interdisciplinares de leitura do Município de Cairu. A ideia é fomentar o respeito às diferenças, à memória e à inclusão dos agrupamentos identitários, sujeitos historicamente construídos, geralmente contíguos à margem da sociedade, formados de acordo com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos. Ainda mais, para que se sintam representados por vozes da comunicação discursiva, dos diferentes significados e contextos sociais em movimento constante, reflexo da multiplicidade cultural, em perspectiva intercultural e antirracista (BAHIA, 2019); (CANDAU, 2009); (CARNEIRO, 2011); (HOOKS, 2013); (KILOMBA, 2019); (MUNANGA, 2001) e (SODRÉ, 2005).