O presente trabalho foi elaborado a partir da análise do romance “Torto Arado”, escrito por Itamar Vieira Junior (2018). Neste sentido, a obra guarda forte potencial de ser uma literatura a ser utilizada como recurso didático para o ensino de geografia no ensino médio. O autor nos conduz a pensar os poros da questão agrária brasileira a partir das estruturas de gênero, raça e classe. Ao trazer essa tríade conceitual, o livro traz uma narrativa que se envereda pelos caminhos e encontros entre gênero, sexualidade e educação do campo. No artigo, buscamos abordar a centralidade dos personagens femininos na luta pela terra, em que os trabalhadores enfrentam condições análogas à escravidão. Essas mesmas figuras femininas também questionam as relações de poder baseadas no gênero, onde o domínio e posse de seus corpos se apresenta como extensão do domínio e uso das terras. À sexualidade envolta nos corpos femininos - antes submissos, silenciados e a serviço da procriação -, dar lugar a uma sexualidade, marcada pela ética do desejo. As mulheres de Torto Arado se colocam como seres desejantes e sujeitos de um outro projeto político. A educação entra, na história, como ferramenta de ascensão social, consciência de classe e caminho para assegurar direitos humanos. A partir da interpretação do livro, a luz de referências bibliográficas que discutem gênero, sexualidade, educação do campo, ensino de geografia e questão agrária relacionadas à temática, como obras de Salles (2010), Macedo (2022), Louro (2008) e Lourenzi (2019), o artigo propõe discutir a possibilidade de uso do livro como recurso didático, reforçando o poder político inerente à obra, além de inspirar atos morais e éticos, promover a representatividade e, a partir do confronto com realidades distintas, estimular a reflexão, visto que algumas questões tratadas aqui ainda são tabus ou permanecem mascarados sobre um véu de ignorância.