A partir da pedagogização cultural dos corpos, pensaremos sobre as memórias de infância de mulheres, que, durante a ditadura militar (1964-1986), foram marcadas por violências de múltiplos vetores: do totalitarismo de Estado, de gênero, sexualidade, raça, classe e de territorialidade, e são, ainda, nos dias atuais, pouco conhecidas e têm tímida visibilidade. Dessa forma, para além de ressaltar essas memórias que, por ora, estão esquecidas, o objetivo dessa pesquisa é trazer para o campo da educação e da psicologia reflexões políticas e epistemológicas, por meio das narrativas, como a cisheteronormatividade, feminilidade normativa atravessaram e atravessam, até hoje, as memórias de infância de mulheres que viveram na ditadura, a partir do contexto histórico e sócio-político, o cotidiano em que esses corpos estavam inseridos. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de mestrado de cunho qualitativo e, como abordagem metodológica e analítica, fundamenta-se na perspectiva das memórias, ancorada em Benjamin (1985), que se afasta da presentificação, ou seja, da repetição de um passado perene no presente (GAGNEBIN, 2014). A pesquisa conta, também, com os aportes da análise de discurso de Michel Foucault (1996), que permitem compreender os atravessamentos das relações e dos dispositivos de poder nas produções discursivas. Outro importante viés teórico metodológico é a interseccionalidade e decolonialidade por oferecer subsídios para a análise de diferentes marcadores sociais, como classe social, gênero, sexualidade, raça/etnia e território, na produção de sentidos que configuram as experiências narradas nas memórias da ditadura militar.