A partir da inserção de Rachel de Queiroz no cenário nacional das letras, muda-se o olhar sobre o feminino. A literatura de autoria feminina passa a ser, a despeito do descrédito inicial, louvada e o protagonismo feminino figura nos textos com personagens femininas que, contrariando o que culturamente lhes era imposto, escolhem e trilham seus próprios destinos. Assim nasce Maria Moura, protagonista do romance Memorial de Maria Moura , mulher forte que refuta o casamento e a maternidade, destino tradicionalmente imposto às mulheres; senhora de si, dona de seu corpo e de sua sexualidade, detentora de poder e de uma liberdade de agir incomum às mulheres no contexto do patriarcado . Por isso, a personagem torna-se foco dessa pesquisa, pois suscita várias investigações em relação a sua vivência que subverte padrões sócio-culturais. Propõe-se, nesta apresentação oral discutir os (des) caminhos do feminino dessa personagem transgressora. Objetiva-se refletir sobre as vivências de Moura, relacionadas à sua postura como mulher que subverte os preceitos destinados ao sexo feminino no que diz respeito à forma como ela se veste, como dispõe de seu corpo e de sua sexualidade. Busca-se compreender as ações e atuações de Moura que a diferenciam enquanto mulher que conquista sua autonomia. Elege-se a crítica feminista como teoria basilar nesse trabalho, pois acredita-se que uma investigação que pretende compreender a trajetória transgressora de uma personagem feminina deve se pautar em embasamentos teóricos dessa natureza. Pretende-se usar como abordagem metodológica a pesquisa descritivo-explicativa de base bibliográfica, tendo fontes de papel como corpus das análises. As linhas temáticas que orientam esse trabalho são a relação entre Estudos literários, Gênero e Sexualidades. As transgressões de Moura foram constituindo sua personalidade a ponto de ela subverter sua aparência feminina para aventurar-se na busca pelo poder, o poder de tornar-se livre dos mandos dos sujeitos masculinos e o poder obtido através do acúmulo de bens. Vale mencionar, que a obtenção do poder realizada pela personagem se dá por meios ilícitos, mas a vivência de marginalidades não a incomodava, pelo contrário, numa completa ausência de crise de consciência, ela usava dos meios que fossem necessários para tornar-se proprietária de gado, ouro e terra e se fazer respeitar pelas pessoas. Ao usar indumentária masculina e cortar seus cabelos, Moura transforma a sinhazinha do Limoeiro numa guerreira destemida que lidera um bando de cabras, dispostos a seguir à risca suas ordens. Ela própria torna-se a “lei”, ditando regras e códigos que determinam o seu destino e o de seus comandados. A si ela sentencia que a Moura guerreira triunfe sobre a Moura passional, pois não poderia deixar que seus sentimentos amorosos destruíssem sua imagem de mulher forte. Comandar e amar tornam-se inconciliáveis na vida da personagem e ao ter que optar entre um dos dois, ela opta por continuar no posto de comando, solidificando sua imagem de mulher que tem domínio sobre seus impulsos passionais e não perde sua autonomia em nome de viver um grande amor.