O objetivo precípuo deste artigo é demonstrar de que forma a tomada de decisão da União Europeia durante a crise da Zona do Euro aprofundou o seu déficit democrático entre os anos de 2008 e 2014. A evolução histórica e institucional da UE, concomitante à gradual transferência de competências da esfera doméstica para a supranacional, levantou questionamentos da academia e dos cidadãos a respeito do quão democráticas e legítimas seriam as políticas adotadas pelo bloco. No contexto do revés financeiro mundial iniciado em 2008 com a quebra do Banco Lehman Brothers, nos EUA, a Europa não demorou a sentir os efeitos da crise que, além de afetar as grandes economias europeias, evidenciou que a maior crise talvez não fosse a do euro, mas sim a da ‘eurodemocracia’. Ante o exposto, a presente proposta tem como objetivo analisar de que forma a tomada de decisão para conter a crise aprofundou o déficit democrático da UE entre os anos de 2008 e 2014. A hipótese é a de que, durante a crise, a UE concentrou a tomada de decisão nas mãos de atores políticos indiretamente eleitos e dos Estados-membros com maior poderio financeiro. Para isso, analisa, brevemente, o debate acadêmico acerca da existência ou não do déficit democrático, e apresenta as políticas públicas internacionais adotadas pela UE para conter a crise, em especial os mecanismos para transferências fiscais, a nova arquitetura institucional e o novo papel do Banco Central. Nas conclusões, analisa os dados expostos nas seções anteriores e à luz da teoria democrática contemporânea. A metodologia utilizada é qualitativa, por meio de estudo de caso descritivo, com a ferramenta do process tracing. Analisa-se os dados primários da própria União Europeia, bem como revisa a bibliografia teórica a respeito do objeto de estudo. Os resultados preliminares da pesquisa apontam que houve perda de legitimidade e accountability democrático da UE, tanto em relação à participação popular, quanto aos resultados políticos e ao processo político que deu origem às políticas de contenção à crise.