Este trabalho investiga - nas performances das repentistas Mocinha de Passira, Minervina Ferreira e Maria Soledade - os mecanismos de “docilização” e “domesticação” dos seus corpos femininos, a partir das possíveis influências do universo masculino, predominante, na cantoria. Neste sentido, questiona-se se o fato do ser-mulher tem relação com o imaginário androcêntrico determinante no mundo da cantoria e como o corpo constitui uma linguagem funcional, um efeito – signo da sexualidade, após uma redução do simbolismo a uma pura redução associativa, em nome do princípio linear de gênero delimitado, sobretudo pelos espaços performáticos em apresentações profissionais. Para as concepções de corpo buscou-se base teórica em Foucault (1979; 2000; 2003; 2006) e em Ricoeur (1988); e para a performance na cantoria, utiliza-se a teoria de Zumthor (2010). Analisam-se os rastros de tais processos de “docilização” nas performances das investigadas, marcadas por algumas estratégias, como, por exemplo: 1) Tentar, nas performances, “desqualificar” a masculinidade do oponente homem; 2) Buscar, de todas as formas discursivas, certa isonomia de gênero que se perfaz nas tentativas de se igualar ao homem nas performances do corpo e até no discurso. Tais processos de “docilização” e/ou “domesticação” apontam a um “controle do imaginário” dos corpos femininos em performance nas cantorias, o que assinala um processo histórico do androcentrismo.