A divisão binária de gênero é uma estrutura que molda comportamentos e dita normalidades e anormalidades na construção de gênero dos sujeitos e nas relações interpessoais, a partir de um binarismo decorrente da atribuição do sexo no nascimento e da noção de dimorfismo sexual. A construção e manutenção de padrões de gênero são disseminadas a partir de regras sociais rígidas, que permeiam essas relações, informando o que é inteligível para cada gênero e interditando, punindo e tentando ajustar o que escapa à normalidade. Articulam-se discursos e métodos diversos para a disseminação dessas regras, como o estabelecimento de verdades em torno de cada gênero e da materialização dessas verdades em suportes diversos. A vida passa a ser dividida entre o que é adequado a meninas e a meninos, moldando preferências e ensinando como devem se comportar e agir para refletir o gênero que a eles foi designado. Nem mesmo itens cotidianos e banais escapam a essa normalização da vida. Neste artigo, temos como objetivo compreender como mochilas escolares voltadas para crianças auxiliam na produção e reprodução de padrões binários de gênero. A partir dos resultados de buscas realizadas na internet com os descritores “mochilas para meninas”, “mochilas para meninos” e “mochila infantil unissex”, discutimos os discursos veiculados visualmente nas cores e estampas das mochilas disponíveis para cada gênero. Pelo levantamento realizado, constatou-se que as figuras encontradas remetem os gêneros a padrões heteronormativos e intentam perpetuar e disseminar as regras da inteligibilidade dos gêneros binariamente divididos. As mochilas destinadas às meninas tinham predominância de cores claras, com destaque para a cor rosa, e estampas que as remetiam a uma noção de delicadeza. As mochilas para meninos apresentavam cores vibrantes, mais preta e azul, e estampas com animais selvagens, super-heróis e temas tecnológicos, denotando à força, agressividade e inteligência.