Este trabalho pretende discutir, por meio do conto Luz e sombra, de Caio Fernando Abreu, publicado na antologia Morangos Mofados (1985), as possibilidades que a literatura desempenha em tempos de crise, especialmente em regimes ditatoriais, através da chamada arte engajada, mediante denúncia do caos que provoca na integridade humana. Além disso, busca-se, a partir das representações do fazer artístico, refletir sobre os desvelamentos das problemáticas acarretadas pela tentativa de silenciamento social e repressões históricas que reverberam através dos anos com posicionamentos ideológicos autoritaristas, considerando fundamentalmente a literatura enquanto instrumento de resistência e transgressão em situações nas quais existem tentativas de apagamento simbólico de grupos sociais não hegemônicos. Para tanto, adotou-se como referencial teórico os estudos sobre a personagem a partir de Candido (1976, 2004) e Brait (1985), bem como os postulados acerca da literatura enquanto ferramenta de resistência, como os de Alonso (2019), Amaral (2019) e Bosi (2002). Utilizando-se da metodologia de base analítico-interpretativa para que os objetivos fossem alcançados, o estudo mostrou que a literatura de cunho autobiográfica de Caio Fernando Abreu configura-se essencialmente pelo atravessamento do viés engajado da construção literária, por buscar resgatar as memórias de um importante período político e desnudar as feridas simbólicas resultantes nos sujeitos.