A personagem feminina na literatura gótica escrita por homens tende a seguir o arquétipo de anjo do lar, muitas vezes sendo reduzida a simples acessório da trama, de modo estereotipado. No entanto, as narrativas escritas por mulheres tendem a subverter tropos sexistas e simplistas, refletindo sobre seus medos e desejos numa sociedade patriarcal. Um dos notórios exemplos do gótico feminino encontra-se na obra de Júlia Lopes de Almeida, Ânsia Eterna, coletânea de contos originalmente publicada em 1903. Deste modo, para este trabalho selecionamos um dos contos, intitulado “O caso de Ruth”, com o intuito de estabelecer uma análise crítica da obra, levando em consideração as violências de gênero sofridas pela protagonista. Assim sendo, objetivamos destacar os elementos característicos do gótico feminino, bem como investigar como Júlia Lopes de Almeida os insere em sua narrativa. Para tanto, utilizamos os pressupostos crítico-teóricos de pesquisadores, tais como: Moers (1976), Botting (1995), Wallace e Smith (2009), Matangrano e Tavares (2019). A partir disso, é possível considerar que, inicialmente, o conto introduz a protagonista fazendo-a parecer como uma personagem que segue o perfil do anjo do lar. Contudo, a autora posteriormente subverte este tropo ao explorar as suas angústias causada pela opressão patriarcal, expondo a violência sexual e a cupabilização da vítima como algo recorrente na vivência feminina.