Este trabalho se propõe a contribuir para as pesquisas voltadas à representação do meio ambiente no texto literário, sob o enfoque da Ecocrítica. Para tanto, recorre-se à análise da obra “Coisas de Onça”, do escritor indígena brasileiro Daniel Munduruku, na qual estão reunidas quatro fábulas: “A onça e o coelho esperto”, “O grito do sapo e espanto da onça”, “A onça e o veado” e “A onça e a raposa”. Nesse sentido, busca-se compreender como a literatura de autoria indígena pode despertar o olhar ecológico do leitor, estimulando-o à percepção sobre a necessária harmonia entre o ser humano e os animais, representados, nas fábulas citadas, como um exemplo a ser seguido pelo homem nas relações empreendidas em seu cotidiano. Do ponto de vista teórico, essenciais se fazem os estudos de Garrard (2006), que nos permitem compreender as bases que fundamentam a Ecocrítica; os escritos de Munduruku (2021) e Krenak (2019), a partir da defesa da apropriação dos Povos Indígenas sobre a escrita literária, como forma de luta pela ocupação de um território simbólico, categorizado como “aldeamento”; e o olhar de Cosson (2021), especificamente em torno da relação entre literatura e educação, à luz do letramento. Quanto à metodologia, esta pesquisa é de base exploratória, qualitativa. Os resultados, nesse sentido, apontam para um olhar ecológico que permeia toda a obra tomada como corpus deste estudo, sobretudo por, de modo amplo, representar a visão de mundo indígena, intrinsecamente ligada aos elementos da natureza, como os animais, tomados, assim, como referências de como viver, se comportar, se relacionar com o outro, a partir de princípios inegociáveis, como o respeito e a preocupação com o bem-estar, tanto do humano, quanto do não-humano, de forma harmônica, em oposição à visão do branco colonizador.