Considerando que as questões de gênero perpassam todos os setores sociais, inclusive a Educação Básica, esta pesquisa tem como recorte temporal os anos da ditadura militar no Brasil (1964-1985), a fim de investigar e demarcar como esse regime se utilizou dos espaços educativos para produzir masculinidades e feminilidades normativas, bem como as marcas que ainda carregamos desse projeto político. É importante ressaltar que, neste trabalho, a compreensão de educação está para além do âmbito escolar, ao passo que, desde o nascimento, a criança entra em contato com o mundo e recebe informações de como ser/estar/comportar-se. Desse modo, o objetivo geral desta pesquisa volta-se para uma análise acerca das memórias de infâncias vividas durante o período ditatorial no Brasil, observando como as questões de gênero foram ensinadas na família e na escola e tendo como participantes pessoas adultas que, no momento presente, atuam em movimentos sociais. Compreende-se que, ao vislumbrar o trânsito temporal entre o regime militar e a atualidade, dando vida à rememoração, essa memória passa a carregar uma história além da sua individualidade, ao passo que o sujeito que a enseja se encontra interseccionado com amarras sociais. Assim sendo, esta pesquisa é de caráter qualitativo e sua abordagem teórico-metodológica fundamenta-se no feminismo negro e interseccional, assim como na perspectiva das memórias de infância, cunhada por Walter Benjamin (1985), que se distancia da ideia da repetição do passado no presente. Ademais, a partir das narrativas coletadas nas entrevistas, analisou-se como o governo ditatorial se utilizou da educação como aliada à institucionalização da regulação dos corpos, mostrando um íntimo atrelamento às normativas de gênero cis/hetero/branca/patriarcais com a moralidade e o civismo, na medida em que esses elementos se complementavam e constituíam o arquétipo de comportamentos requisitados por esse regime.