Nosso estudo assume o prisma educativo fundador da cultura Ocidental – a paideia grega – como base para analisarmos o ideário de uma formação para a saúde do corpo e da alma. Objetivando compreender como o universo narrativo da mitologia grega forjava pedagogicamente os indivíduos para uma experiência de plena (porque psicossomaticamente saudável) excelência (areté) do Ser, investigamos a(s) maneira(s) como esses antigos mitos educavam para a civilidade, para o bem-viver consigo e com o universo cósmico. Para isso, sustentamos nossa análise fundamentalmente nas seguintes obras: Paideia¸ de Werner Jaeger, Mitologia Viva, de David Viktor Salis, e nos textos disponíveis de Hipócrates, considerado o “pai da medicina”. Resulta dessa investigação a percepção analítica de que os mitos tinham em comum a preocupação em formar seres humanos íntegros, hábeis na arte de viver, o que pressupunha aprender – diante das diversas nuances da vida – princípios éticos fundamentais à consecução de uma psyché (alma/mente) saudável (porque respeitosa com o autoconhecimento, o conhecimento das leis do universo e, portanto, um cuidado de si que é cuidado psicossomático e que responde às determinações cósmicas e aos alertas – manifestos – do destino. Formar bem um ser humano significava, portanto, cultivar a sabedoria para lidar com as complexas instabilidades e estabilidades da vida, num movimento teórico-prático – que também é terapêutico – de viver os mitos que se aprendiam pela tradição oral.