A literatura infantil e juvenil, por dar lugar à construção de universos mágicos do faz de conta, permite que crianças e adolescentes sejam inseridos em contextos diversos a partir das vivências das personagens que conhecem. Nessa lógica, a literatura desempenha um papel importante para o pleno desenvolvimento desses indivíduos, uma vez que propicia que eles busquem soluções para os conflitos existentes nas histórias que leem, compreendendo a relação de verossimilhança entre o imaginário e os acontecimentos do mundo real. É através da literatura, portanto, que crianças e adolescentes entendem a realidade social da qual fazem parte e são atravessados por considerações sobre ela, as quais podem contribuir para o reforço ou a subversão de ideais de sociedade tradicionais. Com isso, ao refletir sobre a literatura infantil e juvenil enquanto espaço primordial para o estabelecimento de consciência crítica nos indivíduos e para o desenvolvimento de uma educação emancipatória, com bases feministas, como ponderou Bell Hooks (2021), bem como a partir da discussão acerca da grande responsabilidade que o livro tem na formação da visão de mundo das crianças e dos jovens, segundo Nelly Novaes Coelho (2012), este trabalho busca analisar, à luz da Crítica Feminista, de que maneira as produções Cinderela Pop (2015) e Princesa Adormecida (2014) revisita os tradicionais contos de fadas infantis e questiona (ou reforça) estereótipos de gênero, valores e ideais perpetuados pela tradição patriarcal, uma vez que a literatura, além de aguçar o imaginário da criança e do adolescente, também atua como agente do processo de iniciação dos indivíduos em determinados valores e na perpetuação ou subversão de padrões comportamentais e de gênero que são ilustrados, sobretudo, pela construção das personagens.