De uma perspectiva histórica, diferentes narrativas foram utilizadas com a finalidade de exercer um papel controlador sobre diversos grupos sociais, considerados capazes de ameaçar uma elite hegemônica. Nesse processo se inicia e se enquadra a marginalização e proibição de venda e consumo de diversas substâncias psicoativas atreladas a determinados grupos e culturas. É nesse contexto que, a partir de 1932, a produção, consumo e comercialização de maconha é proibida no Brasil e ganha uma personificação: o estereótipo do preto selvagem e de religião “endemoniada”, sendo necessário uma política de repressão. O estudo tem como objetivo analisar a ligação entre espiritualidade, cannabis e a resistência abordada na obra "Fumo de Angola" como uma plataforma para educação das relações étnico raciais (ERER). Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório e teórico. Sendo realizada uma Análise de Conteúdo (AC) da obra, fundamentado na literatura científica acerca da ERER. Após perpassar pelas etapas da AC, foi possível identificar quatro capítulos que dialogam com a temática da ERER e o ensino de ciências numa perspectiva intercultural. Diante do exposto, o uso da maconha dentro das religiões afrobrasileiras, africanas e indígenas carrega consigo um caráter profético e sagrado, esse conhecimento deriva do conhecimento etnobotânico nesses povos. Compreender e respeitar a diversidade cultural faz gerar debates e produz uma convivência crítica e respeitosa no meio educacional, sendo o diálogo intercultural um caminho possível. Dessa forma, é possível identificar três temáticas extremamente importantes para uma educação antirracistas: o diálogo intercultural sobre a espiritualidade e natureza em determinadas culturas que desnaturaliza concepções racistas; o uso sagrado da cannabis que proporciona a reconhecimento e valorização da diversidade cultural e descolonização de uma construção racista; e por fim, a ERER na formação de estudantes críticos, mobilizados e antirracistas.