O espaço, compreendido como produto social e histórico, marcado por diferentes conteúdos de acordo com as condições espaço-temporais em que foram engendradados, é um fator limitante, porque não dizer violento, para as mulheres, na medida em que numa sociedade patriarcal, machista e misógina, seus corpos são pensados como objeto de domínio e de prazer dos homens. Andar nas ruas livremente, a qualquer hora ou trajando qualquer roupa não é uma escolha. Basta pensar nas falas que responsabilizam mulheres vítimas de violência, como “com essa roupa, estava pedindo” ou “o que fazia na rua a essa hora?”. Nesse contexto, essa pesquisa – ainda em andamento e com muito mais questionamentos do que respostas - tem por objetivo discutir a violência doméstica no estado de Pernambuco, por uma perspectiva geográfica, buscando ir além da cartografia da violência. A metodologia envolve a coleta e análise dos dados do anuário estatístico de violência doméstica, disponíveis no site da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, buscando compreendê-los sob uma perspectiva geográfica, considerando o componente espaço na dinâmica da violência. Além disso, buscamos pensar também esses dados a partir da geografia dos equipamentos e serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência. A violência doméstica deve ser compreendida na sua dimensão pública, portanto, política. Nesse sentido, estudos dessa natureza constituem-se num caminho necessário para o enfrentamento e para a mudança.