A organização político-administrativa do Grão Pará nas primeiras décadas do século XIX mantinha a estrutura herdada do período colonial, cuja ocupação havia ocorrido inicialmente em função da defesa na região. Uma parte significativa dos núcleos e aglomerações urbanos durante a primeira metade do século XIX era de povoados, aldeias, fortes, lugares, sedes de freguesias e vilas, que tiveram sua origem em aldeias ou ocupações por tribos indígenas, e uma única cidade, Belém, que capitaneava os processos decisórios. A Cabanagem foi um movimento que eclodiu em 1835 na província do Grão Pará, congregando grupos sociais heterogêneos em torno de diferentes projetos políticos que já vinham se desenhando no território junto com suas diferentes formas de apropriação desde meados do século XVIII. O objeto deste trabalho é analisar o impacto sobre a rede urbana, que era formada por pequenos núcleos e foi palco das disputas e que, ao fim e ao cabo, garantiram a manutenção da região ao Estado Imperial. Dentro do que Azevedo (1956) denominou de “geografia urbana retrospectiva”, serão exploradas as possíveis definições de rede urbana para a região e como esta rede foi utilizada na organização do território pós-Cabanagem, articulando-a ao contexto político-administrativo até 1850. Para essa discussão foram tabulados os dados levantados no dicionário de Saint-Adolphe (1845) e a Corografia de Baena (1839), cartografados na base de Niemeyer (1846). O resultado mostra como essa “cartografia em prosa” trazia uma representação do Grão-Pará marcada pelas disputas políticas e ideológica de uma nação em construção.