Analisa o testemunho crítico, o texto e os efeitos da inserção do geógrafo Yves Lacoste na disputa acerca da natureza da geografia: aplicada ou ativa? Essa questão é investigada pelo prisma das afinidades eletivas (SOUSA NETO, 2021). Tais afinidades [de classe] foram eleitas subjetivamente por Lacoste: Raymond Guglielmo (1923-2011), Bernard Kayser (1926-2001) e o mestre Pierre George (1909-2006), todos foram membros do Partido Comunista Francês (PCF). Elas imprimem na trajetória intelectual de Yves Lacoste uma combinação da Escola Francesa de Geografia e marxismo relativamente difuso – por um lado – e um cariz anticolonial, derivado da formação territorial capitalista no Magrebe – por outro. A princípio, um dos principais resultados que a pesquisa permitiu apontar é que Lacoste oferta um testemunho crítico não só acerca do texto/intervenção de Pierre George (publicado em La Géographie active, 1964), mas também sobre os riscos de uma crescente especialização – simbolizada pela géographie appliquée. A perspectiva da geografia ativa em países subdesenvolvidos repousa na possibilidade de ultrapassar a etapa contemplativa de uma geografia cuja razão de ser calcou-se na observação e na explicação das combinações efetivadas na superfície terrestre entre a natureza, a história e a ação humana. Finalmente, os efeitos da inserção de geógrafo nesse debate vão sentir-se nas pesquisas de campo que ele efetiva em Alto Volta, Afeganistão, Cuba e Vietnã. Serão essas experiências concretas que somadas ao maio de 1968 em Paris fornecerão o substrato para sua primeira reflexão epistemológica sobre a Geografia.