Santos (1987, p.81) escreveu que “cada homem vale pelo lugar onde está”. Em uma sociedade capitalista, guiada pela propriedade privada, o homem vale o metro quadrado ao qual habita, mas não apenas isso, o lugar ao qual o corpo ocupa não dá conta de explicar as relações de construção de identidade e valor do indivíduo perante a sociedade. Seu “valor-social” associa-se a outros marcadores como o gênero, sexualidade, raça, etnia dentre outros, que condicionam a forma como o sujeito é apreendido, percebido e recebido perante a sociedade. É no bojo das lutas de classe e dos movimentos sociais, que a necessidade da apreensão do espaço urbano começa a ter na análises interseccional um caminho possível para a compreensão de como as relações entre raça/gênero/classe, dentre outros marcadores, se materializam nos espaços da cidade capitalista, que oprime e desassiste parcela da população, negando-lhes o direito à cidade, a partir daí, torna-se nítido que existem marcadores de diferenças que interseccionam esta população, sendo, em sua maioria, conectada por “3Ps” pobre/preta e periférica. A produção da cidade e do urbano tem sido tema recorrente nos estudos geográficos, sendo que grande parte das pesquisas é analisada a luz do marxismo e do materialismo histórico-dialético. Essa perspectiva teórica tem como base a apreensão dos fenômenos a partir das relações de poder e exploração da classe operária pela burguesia. No entanto, a abordagem interseccional tem surgido como um caminho possível nos estudos geográficos referentes à temática da geografia urbana. Convém frisar que a interseccionalidade não exclui a classe. A classe é um dos marcadores considerados na análise interseccional. A análise interseccional é empregada tanto como método interpretativo quanto como método investigativo, permitindo a compreensão dos diversos fenômenos que ocorrem na cidade e no urbano a partir da intersecção de diferentes marcadores sociais, tais como gênero, raça, classe, orientação sexual, entre outras. Com o propósito de refletir sobre caminhos possíveis para a construção de um método que permita compreender os diversos fenômenos que ocorrem na produção da cidade, este artigo apresenta uma análise das publicações do Simpósio Nacional de Geografia Urbana – SIMPURB. O estudo foca nas edições XV, XVI e XVII do evento, bem como no livro "Geografia Urbana: 30 anos do Simpósio Nacional de Geografia Urbana Cidades, revoluções e injustiças: entre espaços privados, públicos, direito à cidade e comuns urbanos", que reúne as mesas redondas do XVI simpósio. O objetivo é sistematizar as informações contidas nas publicações e investigar a presença da interseccionalidade nas análises realizadas. O artigo apresenta uma síntese conclusiva acerca do trabalho desenvolvido, destacando a importância da análise interseccional na compreensão dos fenômenos urbanos e chamando a atenção para a necessidade de ampliar e aprofundar essa abordagem nos estudos geográficos.