O modelo centralizado de produção de energia elétrica por meio de grandes projetos eólicos tem apresentado limites estruturais no seu desenvolvimento e forma de realização no espaço. Apesar de ser um recurso natural “extraído” por via aérea, ele se encontra territorializado e, sob essa particularidade, se origina uma questão central dessa atividade que advém de um duplo movimento de apropriação e expropriação/desapropriação do território e dos seus elementos naturais constituintes. Na corrida por terras e na expansão da fronteira de produção, tem se evidenciado contradições tanto do ponto de vista geobiofísico (impactos ambientais) como social (conflitos com a territorialidade de grupos sociais atingidos), sendo que, sobre o território, se concentram a centralidade dessas contradições. Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo analisar as expressões espaciais concretas e os respectivos rebatimentos territoriais da produção de energia eólica entre as comunidades de pescadores tradicionais de Enxu Queimado e Praia do Marco, localizadas entre os municípios de Pedra Grande e São Miguel do Gostoso, no litoral norte do estado do Rio Grande do Norte, distante 132 km da capital, Natal/RN. A pesquisa teve como base a implementação e a operação de um complexo eólico, composto por 13 parques de geração, onde se constatou, através do modelo de implantação e operação do grande projeto de produção de energia, práticas expropriatórias, de precarização territorial e degradação ambiental.