O conhecimento sobre o prejuízo na função neuromuscular após corrida pode ser de grande utilidade prática, auxiliando no planejamento adequado de intervalos de descanso entre treinos e competições, assim como no uso apropriado de métodos para acelerar a recuperação física. O presente estudo teve como objetivo caracterizar a cinética dos distúrbios na função neuromuscular após diferentes intensidades de corrida em esteira. Quatorze sujeitos do sexo masculino participaram do estudo (idade: 26±5 anos; V?O2max: 51,4±6,6 mL/kg/min). Os voluntários foram submetidos de maneira aleatória à (i) 40 minutos de corrida em intensidade do ponto de compensação respiratório (PCR; 11,9±0,9 km/h; domínio pesado); (ii) 10 esforços de 3min 06s à 130% do PCR (15,55±1,2 km/h; esforço/pausa de 1/1,5; domínio severo); ou (iii) 20 esforços de 1min 20s à 150% do PCR (17,94±1,38 km/h; esforço/pausa de 1/1,5; domínio extremo). Nas três ocasiões, a mesma distância foi percorrida (8,0±0,6 km). Antes, imediatamente após, 1, 2, 4 e 6 horas após o fim do exercício, os voluntários realizaram avaliações da função neuromuscular que consistiram em contrações isométricas voluntárias máximas de extensores do joelho do membro dominante (iCVM), associadas à eletroestimulação do nervo femoral durante esforço e com o músculo relaxado. A partir dos valores de diferença percentual em relação aos testes pré-exercício (ou seja, ?%), observou-se que a força voluntária máxima (iCVMForça), indicador global da função neuromuscular, reduziu de forma gradativa desde imediatamente após, até 6 horas após o fim do exercício (-4 à -10%, efeito de tempo na ANOVA). Não houve influência da intensidade do exercício sobre a redução da iCVMForça. A força evocada por estímulo elétrico simples com o músculo relaxado (Qtw), indicador da função dos componentes periféricos da via motora, apresentou redução somente 2 horas após o fim do exercício (-7%, efeito de tempo na ANOVA). A Qtw apresentou maior redução após exercício realizado no domínio extremo em comparação ao exercício no domínio severo (efeito de condição na ANOVA). Não foram observados efeitos de tempo ou condição sobre a ativação voluntária (AV), indicador da função dos componentes centrais da via motora. Correlações significativas foram observadas entre ?%s da iCVMForça vs AV após exercício nos domínios pesado (r = 0.56), severo (r = 0.28) e extremo (r = 0.59). Concluímos que a função global do sistema neuromuscular se mantém reduzida por até 6 horas após ~8 km de corrida em domínio pesado, severo e extremo, havendo maior prejuízo na função dos componentes periféricos da via motora quando o exercício é realizado no domínio extremo em comparação à realização no domínio pesado. Mesmo não havendo redução estatística, o decréscimo da função dos componentes centrais da via motora é correlacionado à redução da iCVMForça após corrida, principalmente nos domínios severo e extremo.