Esta comunicação propõe uma visão de três produções literárias da Maria Valéria Rezende, nas quais comparecem, de modos distintos, a representação da violência de gênero. Serão analisados os romances: O voo da guará vermelha (2005), Quarenta dias (2014) e Outros cantos (2016). O arco teórico sob o qual esse debate se apoia aborda aspectos sublinhados pelas estudiosas Bell Hooks, Flávia Biroli, Elaine Showalter, Joan Scott, Michele Perrot, Patrícia Hill Collins e Virginia Woolf. Rezende é uma autora contemporânea recente no cenário nacional, possui um projeto literário encabeçado por protagonistas “femininas”, o que contribui para a construção de uma espécie de matriarcado literário. Em seu universo ficcional a autora debate e denuncia questões cruciais silenciadas pela tradição patriarcal. Uma problemática grave e urgente que perpassa a sua poética são as diversas faces de violências às quais as minorias estão sujeitas, enfatizando a combinação gênero e violência. É possível perceber que tanto as suas protagonistas como as personagens secundárias são acometidas por violência simbólica – advinda das pressões sociais –, violência conjugal e até mesmo casos de violência de gênero extrema, que resultam em feminicídio. À vista disso, constata-se a forte potência do posicionamento feminista da escritora, que utiliza a literatura como veículo de crítica social e denúncia, o que propicia uma leitura fecunda de suas obras por esse viés.