Neste trabalho, relacionado à nossa pesquisa de mestrado em andamento, objetivamos investigar discursivamente como a identidade nordestina pode se constituir através da relação entre ethos e animalidade nas canções de Luiz Gonzaga. Partindo dos estudos de Costa (2001), que reivindica um status de constituência para o discurso literomusical brasileiro e compreende a canção como uma prática discursiva, buscamos relacionar o ethos ao fenômeno da animalidade nas canções “Siri jogando bola” (1956), “Apologia ao jumento” (1968), “Asa branca” (1947), “Acauã”(1952), “Boiadeiro” (1950) e “A vida de viajante” (1953) do cantor Luiz Gonzaga. Para isso, nos fundamentamos na Análise do Discurso francesa, partindo dos pressupostos teóricos de Dominique Maingueneau acerca do conceito de ethos discursivo (2006, 2008, 2013, 2015, 2020) e nas proposições de Maciel (2016) e Agamben (2017) sobre o fenômeno da animalidade, além da pesquisa de Mendes (2019) que identifica uma tendência do fenômeno da animalidade no âmbito do discurso literomusical, mais especificamente em canções para crianças. Nossa análise prévia indica que a animalidade nas canções selecionadas se manifesta, principalmente, de duas maneiras: a primeira é através da fusão: o animal possui características humanas, além de o enunciador se dirigir como se este fosse seu interlocutor, tivesse a capacidade de expressar sentimentos e compreensão, algo que é limitado ao homem. A segunda se dá pelo processo da metaforização/ alusão: o animal é utilizado para remeter aos habitus e ao universo sertanejo. Ao relacionar com o ethos, podemos perceber que o enunciador das canções cria uma imagem de si que se associa com a construção de uma identidade nordestina. Dessa forma, a relação do ethos com a animalidade nas canções de Luiz Gonzaga possibilita a construção de um mundo ético sertanejo que abre margem para a identificação de seus co-enunciadores, algo característico do posicionamento em que este artista está inserido.