COMO SABEMOS, A ATUAL PANDEMIA TROUXE INÚMEROS IMPACTOS PARA A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA, NÃO
SENDO DIFERENTE NO CASO DO ENSINO, SOBRETUDO NO NÍVEL BÁSICO. JÁ PASSAM DE MAIS DE UM MILHÃO DE
MORTOS PELA COVID-19, UM SALDO DEVASTADOR ALCANÇADO DESDE O MOMENTO EM QUE A ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), DECLAROU A PANDEMIA EM MARÇO DE 2020. COM AS RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELOS
ÓRGÃOS SANITÁRIOS E GOVERNAMENTAIS, O COTIDIANO E AS RELAÇÕES FORAM MODIFICADOS, NÃO SAINDO ILESAS AS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM IDADE ESCOLAR. UMA NOVA REALIDADE, COM AULAS REMOTAS, SE FEZ PRESENTES EM
UM CURTO PERÍODO DE TEMPO. PARA ALÉM DISSO, HOUVE TAMBÉM UMA ACENTUAÇÃO DA DESIGUALDADE E UMA
MAIOR PERCEPÇÃO DAS DIFICULDADES DE ACESSO À TECNOLOGIA, SOBRETUDO NO TOCANTE AO ENSINO PÚBLICO.
ENTENDENDO QUE A GRANDE MORTALIDADE TRAZIDA PELA COVID-19 ESTÁ RELACIONADA COM OUTRAS PATOLOGIAS
E, SOBRETUDO, EVIDENCIANDO E CAUSANDO INÚMEROS IMPACTOS DE ORDEM SOCIAL, CONSIDERAMOS IMPORTANTE
DISCUTIR O CONCEITO DE SINDEMIA, CUNHADO PELO ANTROPÓLOGO E MÉDICO AMERICANO MERRIL SINGER, EM
SUAS PALAVRAS, SINDEMIA É “UM CONJUNTO DE PROBLEMAS DE SAÚDE INTIMAMENTE INTERLIGADOS E QUE
AUMENTAM MUTUAMENTE, QUE AFETAM SIGNIFICATIVAMENTE O ESTADO GERAL DE SAÚDE DE UMA POPULAÇÃO NO
CONTEXTO DE PERSISTÊNCIA DE CONDIÇÕES SOCIAIS ADVERSAS” (SINGER, P.99, 1996).
AINDA CONFORME ESSA TEORIA, O CONTEXTO SOCIAL, AMBIENTAL E ECONÔMICO É DETERMINANTE PARA A INTERAÇÃO
DE DOENÇAS COEXISTENTES, DESTA FORMA AS DOENÇAS SE AGLOMERAM DE MANEIRA DESPROPORCIONAL,
INFLUENCIADAS POR QUESTÕES ESTRUTURAIS (SINGER,1996). CONSIDERANDO QUE O ENSINO DE HISTÓRIA TEM ENTRE
OS SEUS PRINCIPAIS OBJETIVOS PROPORCIONAR UMA FORMAÇÃO CIDADÃ, E ATRAVÉS DOS PRESSUPOSTOS
APRESENTADOS POR MARIA AUXILIADORA SCHMIDT E MARLENE CAINELLI (2004), ONDE VEMOS QUE O ENSINO DE
HISTÓRIA DEVE PROPORCIONAR NOS ALUNOS UMA REFLEXÃO DE SEU COTIDIANO E QUE, CONFORME APONTA JAQUES LE
GOFF (1985) A DOENÇA PERTENCE A HISTÓRIA, NÃO PERTENCE APENAS AOS CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS E
TECNOLÓGICOS, IGUALMENTE PERTENCE A HISTÓRIA SOCIAL.
A PARTIR DO QUE É – COMUMENTE – APRESENTADO NOS MATERIAIS DIDÁTICOS, PERCEBE-SE UMA AUSÊNCIA DE
TRATATIVAS A RESPEITO DO IMPACTO DAS EPIDEMIAS NAS SOCIEDADES, SENDO RARAMENTE RETRATADAS NOS LIVROS
DIDÁTICOS DE HISTÓRIA. NESSE SENTIDO, ESTE TRABALHO BUSCA ELENCAR AS POSSIBILIDADES DE DISCUSSÃO EM SALA
DE AULA, LEVANDO FONTES PRIMÁRIAS, A FIM DE, JUNTAMENTE COM OS ALUNOS, PROMOVER O SABER HISTÓRICO
E CRÍTICO. COMO RECORTE PARA A DISCUSSÃO, PROPOMOS DISCUTIR O SÉCULO XVIII NA AMÉRICA
COLONIAL, ELENCANDO EPIDEMIAS E TRATAMENTOS OCORRIDOS NO PERÍODO, NOS DOMÍNIOS DA ESPANHA E
PORTUGAL. PARA ISSO, A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DOS AUTORES DESTE TRABALHO ATRAVÉS DO PROGRAMA
DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E DO PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA, A DISCUSSÃO SERÁ FEITA ATRAVÉS
DE ALGUNS EXCERTOS DE FONTES PRIMÁRIAS COMO AS “CARTAS ÂNUAS DE LA PROVÍNCIA JESUÍTICA DEL
PARAGUAY” (1714-1762), ESCRITA PELOS PADRES JESUÍTAS NA BACIA PLATINA E O MANUAL DE MEDICINA
“ERÁRIO MINERAL” (1735) ESCRITO PELO CIRURGIÃO PORTUGUÊS LUÍS GOMES FERREIRA, QUE VERSAM SOBRE AS
EPIDEMIAS E TRATAMENTOS MÉDICOS NA AMÉRICA COLONIAL ATRAVÉS DO TRABALHO COM AS FONTES PRIMÁRIAS EM SALA DE AULA, TEMOS POR OBJETIVO NÃO SÓ EVIDENCIAR O
IMPACTO DAS DOENÇAS NOS DIFERENTES TEMPOS E ESPAÇOS – NESSE CASO, NA AMÉRICA DO SÉCULO XVIII – MAS
TAMBÉM A PROMOÇÃO DE UM SENSO CRÍTICO QUE POSSIBILITE UMA MAIOR COMPREENSÃO DA REALIDADE QUE OS
CERCAM, E TAMBÉM O CONCEITO DE SINDEMIA, COMO MEIO DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ATUAL. PARA O
FILOSOFO MICHEL FOUCAULT (2000) É ESSENCIAL ESTUDAR AS FORMAS COMO OS SABERES SE CONFRONTAVAM, DE
MODO QUE ALGUMAS FORMAS DOS SABERES SE CONSAGRAM HISTORICAMENTE E OUTRAS NÃO, AO USAR O CONCEITO
DE “ARQUEOLOGIA”, COMO UMA ANALOGIA, FOUCAULT (2000) TEM POR OBJETIVO MOSTRAR QUE O ARQUEÓLOGO NO
SENTIDO LITERAL ESCAVA, DESTA FORMA “RECONSTRÓI A HISTÓRIA”. SENDO ASSIM, SEGUNDO FOUCAULT (2000), OS
SABERES ESTÃO DISPUTANDO HEGEMONIA, POR ISSO AO ANALISAR UM PERÍODO DA HISTÓRIA PRECISAMOS “ESCAVAR”,
PARA PODER RECONSTRUIR O CENÁRIO DO PASSADO, QUE ACABOU SENDO OBSCURECIDO.
A PARTIR DA ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS VOLTADOS AO ENSINO BÁSICO, CONSIDERAMOS QUE, EM GERAL, A
HISTÓRIA DAS DOENÇAS FOI SOTERRADA PELA HISTORIOGRAFIA, DE MODO QUE OS IMPACTOS PROPORCIONADOS PELAS
EPIDEMIAS COSTUMAM FICAR EM SEGUNDO PLANO. POR CONTA DISSO, PROPOMOS O USO DE EXCERTOS DAS
PRIMÁRIAS EM SALA DE AULA, SENDO AS “CARTAS ÂNUAS DE LA PROVÍNCIA JESUÍTICA DEL PARAGUAY” (1714-
1762), QUE NARRAM OS MOMENTOS DE EPIDEMIAS NAS REDUÇÕES JESUÍTICAS DA BACIA PLATINA, E OS
TRATAMENTOS ADOTADOS, COMO POR EXEMPLO, UMA ESPÉCIE DE “ISOLAMENTO SOCIAL”. ALÉM DESTA, TAMBÉM
NOS UTILIZAMOS DO “ERÁRIO MINERAL” (1735) DE LUÍS GOMES FERREIRA, ONDE SÃO DEMONSTRADOS
TRATAMENTOS PARA ENFERMIDADES NAS MINAS GERAIS SETESCENTISTAS.
PARA ALÉM DISSO, ATRAVÉS DOS PRESSUPOSTOS APRESENTADOS POR MARIA AUXILIADORA SCHMIDT E MARLENE
CAINELLI (2004), ACERCA DO ENSINO DE HISTÓRIA, E DO CONCEITO DE SINDEMIA APRESENTADO POR MERRIL
SINGER, BUSCAMOS ATRAVÉS DA PROPOSTA DE ANÁLISE DAS FONTES EM SALA DE AULA, DISCUTIR OS IMPACTOS
BIOLÓGICOS, SOCIAIS E ECONÔMICOS DAS EPIDEMIAS E, DO MESMO MODO, PROMOVER UMA CONSCIÊNCIA CRÍTICA
E O ENTENDIMENTO DE PERTENCIMENTO À HISTÓRIA ATRAVÉS DAS RELAÇÕES COTIDIANAS ATUAIS. PORTANTO,
ENTENDENDO OS IMPACTOS TRAZIDOS ATRAVÉS DA PANDEMIA DA COVID-19, MODIFICANDO MUITAS REALIDADES –
NÃO DIFERENTE NO MUNDO ESTUDANTIL – VIMOS COMO NECESSIDADE DISCUTIR A RELAÇÃO DAS DOENÇAS COM A
HISTÓRIA. PARA ISSO, ENTENDEMOS COMO PLAUSÍVEL A DISCUSSÃO DO CONCEITO DE SINDEMIA, ONDE PODEMOS
COMPREENDER A DESIGUALDADE DOS IMPACTOS DAS DOENÇAS EM DIFERENTES GRUPOS, SOBRETUDO OS MAIS
VULNERÁVEIS EM TERMOS SOCIOECONÔMICOS.
COMO RECURSO PARA TAIS DISCUSSÕES, PERCEBEMOS NAS FONTES PRIMÁRIAS ELENCADAS UM POTENCIAL DE
UTILIZAÇÃO EM SALA DE AULA, COMO MEIO NÃO SÓ DE TRABALHAR OS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS ESTABELECIDOS
PELA LEGISLAÇÃO – HISTÓRIA DA AMÉRICA/DO BRASIL COLONIAL – MAS TAMBÉM COMO MEIO DE DISCUTIR OS
TEMPOS ATUAIS, DANDO SIGNIFICAÇÃO DE PERTENCIMENTO À HISTÓRIA AO COTIDIANO DOS ALUNOS. A PARTIR DAS
EXPERIÊNCIAS PESSOAIS DE AMBOS OS AUTORES TANTO NO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, TANTO NO
PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA, ENTENDEMOS TAMBÉM COMO UM MEIO DE BUSCAR A APROXIMAÇÃO DOS
CONHECIMENTOS PRODUZIDOS NA ACADEMIA ATUALMENTE, COM AS DISCUSSÕES EM SALA DE AULA, BUSCANDO
PROMOVER UM MELHOR ENSINO DE HISTÓRIA.
PALAVRAS-CHAVE: COVID- 19; DOENÇAS; LIVROS DIDÁTICOS; SINDEMIA; HISTÓRIA.
REFERÊNCIAS:
BACELLAR, CARLOS. USO E MAU USO DOS ARQUIVOS. IN: PINSKY, CARLA BASSANEZI. FONTES HISTÓRICAS.
[S. L.: S. N.], 2005.9-EUGENIO.
FERREIRA, LUÍS GOMES. ERÁRIO MINERAL. ORG. JÚNIA FERREIRA FURTADO. BELO HORIZONTE: FUNDAÇÃO
JOÃO PINHEIRO/ RIO DE JANEIRO: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. 2002.
FOUCAULT, MICHEL. AS PALAVRAS E AS COISAS. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 1995.
JESUITAS. 2017. CARTAS ÂNUAS DE LA PROVINCIA JESUITICA DE PARAGUAY. 1714-1720. 1720-1730.
1730-1735. 1735-1743. 1750-1756. 1756-1762. BIBLIOTECA DE ESTUDIOS PARAGUAYOS, ASUNCIÓN, V.112.
LE GOFF, JACQUES (ORG). AS DOENÇAS TEM HISTÓRIA. LISBOA: TERRAMAR, 1985