Artigo Anais I CONEDU

ANAIS de Evento

ISSN: 2358-8829

IDENTIDADES HOMOSSEXUAIS NOS ANOS 1990: OS DISCURSOS DA G MAGAZINE

Palavra-chaves: ANOS 90, HOMOSSEXUAIS, G MAGAZINE Comunicação Oral (CO) GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO
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      Este texto pretende fazer um breve estudo dos discursos preocupados com a elaboração de novas identidades homossexuais na revista G Magazine (1997). Para critérios de análise seguiremos o estudo dos anos de 1997 até 2000. Escolhemos a revista G Magazine porque ela inaugura nos anos 1990 a associação entre nus masculinos e conteúdos ligados a saúde, sociabilidades e literatura na estrutura do periódico. Desde a primeira edição a revista possuiu um número expressivo de vendas na época chegando, inclusive, a superar a sua concorrente, a Sui Generis. Este texto possui, portanto, uma relevância acadêmica, dada a pouca visita a esta revista como fonte em pesquisas científicas, bem como a falta de estudos no campo historiográfico sobre os anos 1990, mas também uma relevância social por abordar criticamente, munido de aparelhos teórico-metodológico bem definidos, os modos de vida e de afirmação da sexualidade em um grupo ainda marginalizado socialmente, os homossexuais.  Teoricamente esse texto dialoga especialmente comas formulações de Michel Foucault acerca das identidades homossexuais ao procurar desatualizá-las, abordá-las enfocando muito mais a criação de novos desejos do que propriamente a reinvindicação de direitos característicos das heterossexualidades. Na realidade essas críticas feitas por Michel Foucault estão presentes nas suas entrevistas do que propriamente nos seus conhecidos livros. Metodologicamente iremos dialogar com as experiências em análise do discurso feitas tanto por Durval Muniz de Albuquerque Júnior e Tania Regina de Luca que, ambos seguindo Foucault, elencam um conjunto de procedimentos que podem guiar o trato com os discursos. Palavras-chave: Anos 90 – Homossexuais – G Magazine\r\n
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      ARTIGO: \r\n
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         Os homossexuais eventualmente necessitaram ao longo da história criar e recriar suas identidades visando aspectos positivos e evitando os negativos. Isso é, buscou modificar certa performance dos corpos para não dar pinta e não despertar a curiosidades daqueles que com eles convivem. De dia podia se esforçar tentando parecer heterossexual, de noite pode exagerar nos trejeitos a fim de compor uma rede de sociabilidade. \r\n
               Evidentemente os sujeitos estão constantemente modificando suas identidades quando da interação social, das leituras que fazem do mundo e das pessoas a sua volta. Desse modo, se encontram num constante fluir da identidades, conforme destaca os estudos de Stuart Hall (2009).\r\n
               Certas condições históricas colaboram sobremaneira para uma intensa modificação dessas identidades. Acreditamos que os anos 1990 é o momento em que o processo de rápida modificação das identidades se torna evidente esclarecendo que as pessoas modificam modos de ser/estar/comportar-se constantemente. \r\n
               Os anos 1990, devido à internet trouxe a possibilidade de identidades disfarçadas que só existiriam on-line. Traria o contato com o mundo inteiro sem sair do lugar. Traria a possibilidade de conhecer alguém e lhe contar toda uma vida, real ou de sonhos e, de repente, acessar o tecla delete.\r\n
                A internet colaborou igualmente na instauração de muitas questões. Através do acesso especialmente nos finais de semana por meio da internet discada ficava a questão quem sou eu quando me disfarço numa sala de bate papo, onde é minha casa. Era possível criar outras versões de si mesmos, notadamente ser outros. Sem dúvida, essa ferramenta tecnológica acabou produzindo novos sujeitos (SARAIVA, 2009).\r\n
                  Quando a G Magazine surgiu em 1997, ela se inseria num conjunto de publicações destinadas aos homossexuais que emergiram na década de 1990 com diferentes propostas, mas que se encontravam quanto ao aspecto informativo de assuntos ligados as homossexualidades. Entre 1991 e 1995 circulou especialmente na cidade do Rio de Janeiro, local de sua produção, o jornal Nós, Por Exemplo uma publicação que surgiu com principal objetivo de informar sobre a Aids, após os difíceis anos 1980, quando se deu o surgimento da doença. Em seguida, veio a revista Sui Generis que colocou em questão o entretenimento homossexual. A revista não procurou traçar uma bandeira política nem ser um mero boletim informativo sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), seu propósito era informar sobre moda, teatro, cinema, livros, trazer reportagens sobre o comportamento homossexual no Brasil e no exterior.\r\n
                 Em 1997, com a emergência da revista G Magazine a Sui Generis ganhou a sua principal adversária no mercado das bancas de revistas. A G Magazine, diferentemente da sua concorrente, tinha como marca especial os “nus” masculinos. Para atrair leitores, ela trouxe homens de destaque no cenário nacional. Mensalmente um jogador, um modelo, um ator ou um cantor podia aparecer nas capas da revista. Cumpre destacar que inicialmente ela se chamava Bananaloca e assim permaneceu pelos na quatro primeira edições, a quinta, por sua vez, era a Bananaloca apresentando a G Magazine e, enfim, em outubro de 1997 chegava as bancas das principais bancas de revista do país a G Magazine permanecendo até os dias atuais. \r\n
                Ao eleger certas imagens de homossexuais, selecionando corpos, a revista colaborou sobremaneira para a instauração do que deveria corresponder a um modelo de homossexual. Nas suas capas, como destacou a pesquisa de Fábio Ronaldo Silva (2010), se construía um modelo de virilidade que aproximava os homossexuais da figura do homem forte, malhado, de corpo definido. Como destacou o historiador: \r\n
      \r\n
      encontramos nas capas das revistas homoeróticas brasileiras e, em especial, da G Magazine, apenas modelos com corpos malhados, viris, com uma masculinidade à flor da pele, bem como elementos que compõem a cena que venha a reforçar isso ao invés, por exemplo, de serem exibidos nessas capas, modelos que não apresentem uma virilidade ou que possuam traços femininos. O que nos faz pensar que apenas os homens viris e másculos são desejados pelos homossexuais e essas capas acabam refutando a imagem do homossexual afeminado (SILVA, 2010; p.40).\r\n
      \r\n
                \r\n
               Ao longo das edições a G Magazine ia não só difundindo um padrão de homem viril, ela pedagogizava as qualidades de ser viril. Necessitava ser depilado, ter uma postura corporal que se distanciasse de um jeito feminino, Além, é claro, de ter músculos definidos. Pode estar aí uma das razões para o crescimento do número de academias de musculação no final do século XX.\r\n
               Na edição de número 1 somos informados que a direção fica a cargo de Ana Fadigas e Otávio Mesquita, havendo vários colaboradores. Essas pessoas são quase todas ligadas a cena gay das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro o que colabora para o modo como escrevem e os eventos que elegem para se tornar notícia. \r\n
                Para se tornar atrativa desde o começo a primeira edição falava de nomes conhecidos como Renato Russo que havia morrido cerca de um ano antes daquela edição. Ainda no exemplar nº1 a G trouxe uma entrevista com Clodovil Hernandez. Alguns números depois a revista entrevistou o escritor e militante homossexual João Silvério Trevisan, que mais tarde passou a colaborar como articulista.\r\n
              Ao longo já das primeiras edições e, sem dúvida, devido as condições históricas do momento passou a haver uma aceitação da identidade homossexual, entendendo-a como a relação sexual ou afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Quando se fala de identidade homossexual nos anos 1990 é necessário elencar que foi um momento em que ela passava a ganhar mais visibilidade social e aumentava os casos de aceitação. É o que se percebe no fragmento abaixo:\r\n
      \r\n
      A costureira paranaense Maria da Conceição Muller dos Reis, chegou a dar leite de égua ao filho mais novo, quando ele ainda era um adolescente, para “curá-lo”. Na casa da costureira, homossexualismo era tabu. E dos grandes. \r\n
      Hoje, o professor Toni Reis, 34 anos, tem total apoio da mãe na relação que mantém com o inglês Davi Harrad, 39 anos. Conceição gosta tanto de David que se ofereceu, há um ano e meio a se casar com o companheiro do filho a fim de garantir o visto de residência dele no Brasil. “Eles se gostam muito e, para mim, são um casal como outro qualquer”, disse a costureira na época, disse a companheira na época, que foi apresentada ao companheiro de Toni há quase seis anos. Os dois se mudaram para Curitiba no ano seguinte.\r\n
      Conceição soube do relacionamento do filho com David pelo próprio Toni. \r\n
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      \r\n
               Observando o fragmento acima se pode elaborar a seguinte questão: por que a escolha desse tema e de um texto como esse para constar nas primeiras edições da revista? Na historiografia que trabalha com documentos, especialmente diante das colaborações dadas por Durval Muniz de Albuquerque Júnior(2010) e Tânia Regina de Luca (2009), o historiador deve prestar atenção aos discursos compreendendo o que é dito em condições históricas específicas mas, especialmente, entendendo, através de um diálogo claro com Foucault (2010), o porquê do texto ter sido escrito, as razões para a sua chegada na “ordem do discurso”.\r\n
                 A homossexualidade estava sendo debatida em várias instâncias da sociedade e isso acabava por favorecer a aceitação por parte dos familiares. Os conflitos familiares em torno da aceitação de um parente homossexual também passava por modificações. Dois anos antes desse texto constar na revista, ia ao ar na Rede Globo a novela A próxima vítima que polemizou com a história do personagem Sandrinho (André Gonçalves). Na novela, há uma conversa entre o personagem e a sua mãe onde ele diz ser homossexual. Trata-se de uma trama mas que vai criando subjetividades  nos telespectadores. Esse acontecimento, sair do armário no conhecido horário nobre, das 21 horas, traz a ideia de que o assunto está sendo colocado em debate. \r\n
                A partir do momento que a G Magazine se reporta a casos de visibilidade de uma identidade homossexual, ela objetiva se colocar em torno da discussão e deixar a ideia de que embora o foco da publicação fosse ensaios eróticos, o periódico consegue tratar a abordar temas peculiares da vida dos homossexuais, sobretudo, como se percebe em outros exemplares, a dificuldade de assumira sexualidade. \r\n
                  Evidentemente, não se pode aqui avançar na discussão em torno das identidades homossexuais na G Magazine devido as regras de formatação dos textos para este Colóquio de Educação. Então, procuramos mostrar em linhas gerais, por causa também do estágio embrionário em que se situa nossa pesquisa, que no periódico em estudo foi possível criar e delinear identidades homossexuais que serão discutias e analisadas criticamente em trabalhos vindouros.\r\n
      \r\n
      Biliografia: \r\n
      ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Discursos e Pronunciamentos: a dimensão retórica da historiografia. In.: PINSKY, Carla Bassanezi e LUCA, Tania Regina de (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2012. \r\n
      SILVA, Fábio Ronaldo. Ser ou não ser: a representação da virilidade nas capas da G Magazine. Dissertação de mestrado em História apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Historia  da UFCG, 2010.\r\n
      TAMAGNE, Florence. Mutações homossexuais. In: CORBIN, Alain, COURTINE, Jean-Jacques, VIGARELLO, Georges(orgs). História da virilidade 3: A virilidade em crise séculos XX-XXI. Petrópolis: Vozes, 2013.\r\n
      TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. São Paulo: Editora Record, 2007.\r\n
      VEIGA-NETO, Alfredo. Foucault e a educação. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2008.\r\n
      VEYNE, Paul. Só há o apriori histórico. In.:Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
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               Certas condições históricas colaboram sobremaneira para uma intensa modificação dessas identidades. Acreditamos que os anos 1990 é o momento em que o processo de rápida modificação das identidades se torna evidente esclarecendo que as pessoas modificam modos de ser/estar/comportar-se constantemente. \r\n
               Os anos 1990, devido à internet trouxe a possibilidade de identidades disfarçadas que só existiriam on-line. Traria o contato com o mundo inteiro sem sair do lugar. Traria a possibilidade de conhecer alguém e lhe contar toda uma vida, real ou de sonhos e, de repente, acessar o tecla delete.\r\n
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                  Quando a G Magazine surgiu em 1997, ela se inseria num conjunto de publicações destinadas aos homossexuais que emergiram na década de 1990 com diferentes propostas, mas que se encontravam quanto ao aspecto informativo de assuntos ligados as homossexualidades. Entre 1991 e 1995 circulou especialmente na cidade do Rio de Janeiro, local de sua produção, o jornal Nós, Por Exemplo uma publicação que surgiu com principal objetivo de informar sobre a Aids, após os difíceis anos 1980, quando se deu o surgimento da doença. Em seguida, veio a revista Sui Generis que colocou em questão o entretenimento homossexual. A revista não procurou traçar uma bandeira política nem ser um mero boletim informativo sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), seu propósito era informar sobre moda, teatro, cinema, livros, trazer reportagens sobre o comportamento homossexual no Brasil e no exterior.\r\n
                 Em 1997, com a emergência da revista G Magazine a Sui Generis ganhou a sua principal adversária no mercado das bancas de revistas. A G Magazine, diferentemente da sua concorrente, tinha como marca especial os “nus” masculinos. Para atrair leitores, ela trouxe homens de destaque no cenário nacional. Mensalmente um jogador, um modelo, um ator ou um cantor podia aparecer nas capas da revista. Cumpre destacar que inicialmente ela se chamava Bananaloca e assim permaneceu pelos na quatro primeira edições, a quinta, por sua vez, era a Bananaloca apresentando a G Magazine e, enfim, em outubro de 1997 chegava as bancas das principais bancas de revista do país a G Magazine permanecendo até os dias atuais. \r\n
                Ao eleger certas imagens de homossexuais, selecionando corpos, a revista colaborou sobremaneira para a instauração do que deveria corresponder a um modelo de homossexual. Nas suas capas, como destacou a pesquisa de Fábio Ronaldo Silva (2010), se construía um modelo de virilidade que aproximava os homossexuais da figura do homem forte, malhado, de corpo definido. Como destacou o historiador: \r\n
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               Na edição de número 1 somos informados que a direção fica a cargo de Ana Fadigas e Otávio Mesquita, havendo vários colaboradores. Essas pessoas são quase todas ligadas a cena gay das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro o que colabora para o modo como escrevem e os eventos que elegem para se tornar notícia. \r\n
                Para se tornar atrativa desde o começo a primeira edição falava de nomes conhecidos como Renato Russo que havia morrido cerca de um ano antes daquela edição. Ainda no exemplar nº1 a G trouxe uma entrevista com Clodovil Hernandez. Alguns números depois a revista entrevistou o escritor e militante homossexual João Silvério Trevisan, que mais tarde passou a colaborar como articulista.\r\n
              Ao longo já das primeiras edições e, sem dúvida, devido as condições históricas do momento passou a haver uma aceitação da identidade homossexual, entendendo-a como a relação sexual ou afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Quando se fala de identidade homossexual nos anos 1990 é necessário elencar que foi um momento em que ela passava a ganhar mais visibilidade social e aumentava os casos de aceitação. É o que se percebe no fragmento abaixo:\r\n
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      A costureira paranaense Maria da Conceição Muller dos Reis, chegou a dar leite de égua ao filho mais novo, quando ele ainda era um adolescente, para “curá-lo”. Na casa da costureira, homossexualismo era tabu. E dos grandes. \r\n
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      Conceição soube do relacionamento do filho com David pelo próprio Toni. \r\n
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                 A homossexualidade estava sendo debatida em várias instâncias da sociedade e isso acabava por favorecer a aceitação por parte dos familiares. Os conflitos familiares em torno da aceitação de um parente homossexual também passava por modificações. Dois anos antes desse texto constar na revista, ia ao ar na Rede Globo a novela A próxima vítima que polemizou com a história do personagem Sandrinho (André Gonçalves). Na novela, há uma conversa entre o personagem e a sua mãe onde ele diz ser homossexual. Trata-se de uma trama mas que vai criando subjetividades  nos telespectadores. Esse acontecimento, sair do armário no conhecido horário nobre, das 21 horas, traz a ideia de que o assunto está sendo colocado em debate. \r\n
                A partir do momento que a G Magazine se reporta a casos de visibilidade de uma identidade homossexual, ela objetiva se colocar em torno da discussão e deixar a ideia de que embora o foco da publicação fosse ensaios eróticos, o periódico consegue tratar a abordar temas peculiares da vida dos homossexuais, sobretudo, como se percebe em outros exemplares, a dificuldade de assumira sexualidade. \r\n
                  Evidentemente, não se pode aqui avançar na discussão em torno das identidades homossexuais na G Magazine devido as regras de formatação dos textos para este Colóquio de Educação. Então, procuramos mostrar em linhas gerais, por causa também do estágio embrionário em que se situa nossa pesquisa, que no periódico em estudo foi possível criar e delinear identidades homossexuais que serão discutias e analisadas criticamente em trabalhos vindouros.\r\n
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Publicado em 18 de setembro de 2014

Resumo

Este texto pretende fazer um breve estudo dos discursos preocupados com a elaboração de novas identidades homossexuais na revista G Magazine (1997). Para critérios de análise seguiremos o estudo dos anos de 1997 até 2000. Escolhemos a revista G Magazine porque ela inaugura nos anos 1990 a associação entre nus masculinos e conteúdos ligados a saúde, sociabilidades e literatura na estrutura do periódico. Desde a primeira edição a revista possuiu um número expressivo de vendas na época chegando, inclusive, a superar a sua concorrente, a Sui Generis. Este texto possui, portanto, uma relevância acadêmica, dada a pouca visita a esta revista como fonte em pesquisas científicas, bem como a falta de estudos no campo historiográfico sobre os anos 1990, mas também uma relevância social por abordar criticamente, munido de aparelhos teórico-metodológico bem definidos, os modos de vida e de afirmação da sexualidade em um grupo ainda marginalizado socialmente, os homossexuais. Teoricamente esse texto dialoga especialmente comas formulações de Michel Foucault acerca das identidades homossexuais ao procurar desatualizá-las, abordá-las enfocando muito mais a criação de novos desejos do que propriamente a reinvindicação de direitos característicos das heterossexualidades. Na realidade essas críticas feitas por Michel Foucault estão presentes nas suas entrevistas do que propriamente nos seus conhecidos livros. Metodologicamente iremos dialogar com as experiências em análise do discurso feitas tanto por Durval Muniz de Albuquerque Júnior e Tania Regina de Luca que, ambos seguindo Foucault, elencam um conjunto de procedimentos que podem guiar o trato com os discursos. Palavras-chave: Anos 90 – Homossexuais – G Magazine ARTIGO: Os homossexuais eventualmente necessitaram ao longo da história criar e recriar suas identidades visando aspectos positivos e evitando os negativos. Isso é, buscou modificar certa performance dos corpos para não dar pinta e não despertar a curiosidades daqueles que com eles convivem. De dia podia se esforçar tentando parecer heterossexual, de noite pode exagerar nos trejeitos a fim de compor uma rede de sociabilidade. Evidentemente os sujeitos estão constantemente modificando suas identidades quando da interação social, das leituras que fazem do mundo e das pessoas a sua volta. Desse modo, se encontram num constante fluir da identidades, conforme destaca os estudos de Stuart Hall (2009). Certas condições históricas colaboram sobremaneira para uma intensa modificação dessas identidades. Acreditamos que os anos 1990 é o momento em que o processo de rápida modificação das identidades se torna evidente esclarecendo que as pessoas modificam modos de ser/estar/comportar-se constantemente. Os anos 1990, devido à internet trouxe a possibilidade de identidades disfarçadas que só existiriam on-line. Traria o contato com o mundo inteiro sem sair do lugar. Traria a possibilidade de conhecer alguém e lhe contar toda uma vida, real ou de sonhos e, de repente, acessar o tecla delete. A internet colaborou igualmente na instauração de muitas questões. Através do acesso especialmente nos finais de semana por meio da internet discada ficava a questão quem sou eu quando me disfarço numa sala de bate papo, onde é minha casa. Era possível criar outras versões de si mesmos, notadamente ser outros. Sem dúvida, essa ferramenta tecnológica acabou produzindo novos sujeitos (SARAIVA, 2009). Quando a G Magazine surgiu em 1997, ela se inseria num conjunto de publicações destinadas aos homossexuais que emergiram na década de 1990 com diferentes propostas, mas que se encontravam quanto ao aspecto informativo de assuntos ligados as homossexualidades. Entre 1991 e 1995 circulou especialmente na cidade do Rio de Janeiro, local de sua produção, o jornal Nós, Por Exemplo uma publicação que surgiu com principal objetivo de informar sobre a Aids, após os difíceis anos 1980, quando se deu o surgimento da doença. Em seguida, veio a revista Sui Generis que colocou em questão o entretenimento homossexual. A revista não procurou traçar uma bandeira política nem ser um mero boletim informativo sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), seu propósito era informar sobre moda, teatro, cinema, livros, trazer reportagens sobre o comportamento homossexual no Brasil e no exterior. Em 1997, com a emergência da revista G Magazine a Sui Generis ganhou a sua principal adversária no mercado das bancas de revistas. A G Magazine, diferentemente da sua concorrente, tinha como marca especial os “nus” masculinos. Para atrair leitores, ela trouxe homens de destaque no cenário nacional. Mensalmente um jogador, um modelo, um ator ou um cantor podia aparecer nas capas da revista. Cumpre destacar que inicialmente ela se chamava Bananaloca e assim permaneceu pelos na quatro primeira edições, a quinta, por sua vez, era a Bananaloca apresentando a G Magazine e, enfim, em outubro de 1997 chegava as bancas das principais bancas de revista do país a G Magazine permanecendo até os dias atuais. Ao eleger certas imagens de homossexuais, selecionando corpos, a revista colaborou sobremaneira para a instauração do que deveria corresponder a um modelo de homossexual. Nas suas capas, como destacou a pesquisa de Fábio Ronaldo Silva (2010), se construía um modelo de virilidade que aproximava os homossexuais da figura do homem forte, malhado, de corpo definido. Como destacou o historiador: encontramos nas capas das revistas homoeróticas brasileiras e, em especial, da G Magazine, apenas modelos com corpos malhados, viris, com uma masculinidade à flor da pele, bem como elementos que compõem a cena que venha a reforçar isso ao invés, por exemplo, de serem exibidos nessas capas, modelos que não apresentem uma virilidade ou que possuam traços femininos. O que nos faz pensar que apenas os homens viris e másculos são desejados pelos homossexuais e essas capas acabam refutando a imagem do homossexual afeminado (SILVA, 2010; p.40). Ao longo das edições a G Magazine ia não só difundindo um padrão de homem viril, ela pedagogizava as qualidades de ser viril. Necessitava ser depilado, ter uma postura corporal que se distanciasse de um jeito feminino, Além, é claro, de ter músculos definidos. Pode estar aí uma das razões para o crescimento do número de academias de musculação no final do século XX. Na edição de número 1 somos informados que a direção fica a cargo de Ana Fadigas e Otávio Mesquita, havendo vários colaboradores. Essas pessoas são quase todas ligadas a cena gay das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro o que colabora para o modo como escrevem e os eventos que elegem para se tornar notícia. Para se tornar atrativa desde o começo a primeira edição falava de nomes conhecidos como Renato Russo que havia morrido cerca de um ano antes daquela edição. Ainda no exemplar nº1 a G trouxe uma entrevista com Clodovil Hernandez. Alguns números depois a revista entrevistou o escritor e militante homossexual João Silvério Trevisan, que mais tarde passou a colaborar como articulista. Ao longo já das primeiras edições e, sem dúvida, devido as condições históricas do momento passou a haver uma aceitação da identidade homossexual, entendendo-a como a relação sexual ou afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Quando se fala de identidade homossexual nos anos 1990 é necessário elencar que foi um momento em que ela passava a ganhar mais visibilidade social e aumentava os casos de aceitação. É o que se percebe no fragmento abaixo: A costureira paranaense Maria da Conceição Muller dos Reis, chegou a dar leite de égua ao filho mais novo, quando ele ainda era um adolescente, para “curá-lo”. Na casa da costureira, homossexualismo era tabu. E dos grandes. Hoje, o professor Toni Reis, 34 anos, tem total apoio da mãe na relação que mantém com o inglês Davi Harrad, 39 anos. Conceição gosta tanto de David que se ofereceu, há um ano e meio a se casar com o companheiro do filho a fim de garantir o visto de residência dele no Brasil. “Eles se gostam muito e, para mim, são um casal como outro qualquer”, disse a costureira na época, disse a companheira na época, que foi apresentada ao companheiro de Toni há quase seis anos. Os dois se mudaram para Curitiba no ano seguinte. Conceição soube do relacionamento do filho com David pelo próprio Toni. Observando o fragmento acima se pode elaborar a seguinte questão: por que a escolha desse tema e de um texto como esse para constar nas primeiras edições da revista? Na historiografia que trabalha com documentos, especialmente diante das colaborações dadas por Durval Muniz de Albuquerque Júnior(2010) e Tânia Regina de Luca (2009), o historiador deve prestar atenção aos discursos compreendendo o que é dito em condições históricas específicas mas, especialmente, entendendo, através de um diálogo claro com Foucault (2010), o porquê do texto ter sido escrito, as razões para a sua chegada na “ordem do discurso”. A homossexualidade estava sendo debatida em várias instâncias da sociedade e isso acabava por favorecer a aceitação por parte dos familiares. Os conflitos familiares em torno da aceitação de um parente homossexual também passava por modificações. Dois anos antes desse texto constar na revista, ia ao ar na Rede Globo a novela A próxima vítima que polemizou com a história do personagem Sandrinho (André Gonçalves). Na novela, há uma conversa entre o personagem e a sua mãe onde ele diz ser homossexual. Trata-se de uma trama mas que vai criando subjetividades nos telespectadores. Esse acontecimento, sair do armário no conhecido horário nobre, das 21 horas, traz a ideia de que o assunto está sendo colocado em debate. A partir do momento que a G Magazine se reporta a casos de visibilidade de uma identidade homossexual, ela objetiva se colocar em torno da discussão e deixar a ideia de que embora o foco da publicação fosse ensaios eróticos, o periódico consegue tratar a abordar temas peculiares da vida dos homossexuais, sobretudo, como se percebe em outros exemplares, a dificuldade de assumira sexualidade. Evidentemente, não se pode aqui avançar na discussão em torno das identidades homossexuais na G Magazine devido as regras de formatação dos textos para este Colóquio de Educação. Então, procuramos mostrar em linhas gerais, por causa também do estágio embrionário em que se situa nossa pesquisa, que no periódico em estudo foi possível criar e delinear identidades homossexuais que serão discutias e analisadas criticamente em trabalhos vindouros. Biliografia: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Discursos e Pronunciamentos: a dimensão retórica da historiografia. In.: PINSKY, Carla Bassanezi e LUCA, Tania Regina de (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2012. SILVA, Fábio Ronaldo. Ser ou não ser: a representação da virilidade nas capas da G Magazine. Dissertação de mestrado em História apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Historia da UFCG, 2010. TAMAGNE, Florence. Mutações homossexuais. In: CORBIN, Alain, COURTINE, Jean-Jacques, VIGARELLO, Georges(orgs). História da virilidade 3: A virilidade em crise séculos XX-XXI. Petrópolis: Vozes, 2013. TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. São Paulo: Editora Record, 2007. VEIGA-NETO, Alfredo. Foucault e a educação. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2008. VEYNE, Paul. Só há o apriori histórico. In.:Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

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