OS MANGÁS ESTÃO MUITO À FRENTE DAS MÍDIAS OCIDENTAIS EM SE TRATANDO DE REPRESENTATIVIDADE DE IDENTIDADES NÃO HETERONORMATIVAS. ENQUANTO QUE APENAS RECENTEMENTE TAIS IDENTIDADES COMEÇARAM A GANHAR VISIBILIDADE NA LITERATURA, NO CINEMA E NA TELEVISÃO NO OCIDENTE, PERSONAGENS QUEER FAZEM PARTE DO REPERTÓRIO DOS MANGÁS E ANIMES HÁ DÉCADAS (BRENNER, 2007; DARLINGTON & COOPER, 2010). DENTRE ELES, O MANGÁ HOUSEKI NO KUNI, DE HARUKO ICHIKAWA, GANHOU GRANDE NOTORIEDADE ENTRE OS FÃS DE QUADRINHOS JAPONESES DEVIDO À FORMA COMO O GÊNERO DXS PERSONAGENS É REPRESENTADO: NENHUMX DXS PERSONAGENS PRINCIPAIS TÊM UM GÊNERO DESIGNADO, FAZENDO DESSA OBRA UMA DAS POUCAS A CONTAR COM REPRESENTATIVIDADE NÃO BINÁRIA FORA DO JAPÃO. A PRESENTE PESQUISA TEM COMO OBJETIVO ANALISAR E CRITICAR A FORMA COMO ESSE ELEMENTO QUEER PRESENTE NO MANGÁ HOUSEKI NO KUNI FOI MANTIDO E/OU APAGADO EM SUAS TRADUÇÕES; ASSIM COMO DISCUTIR OS OBSTÁCULOS PRESENTES NA TRADUÇÃO DESSES ELEMENTOS PARA UMA LÍNGUA GRAMATICALMENTE GENERIFICADA COMO A LÍNGUA PORTUGUESA. PARA TAL, CONSIDERANDO O TRADUTOR COMO AUTOR E CONSTRUTOR DE SIGNIFICADO (ARROJO, 1992), O POTENCIAL DAS TRADUÇÕES DE REPRODUZIR OU SUBVERTER IDEOLOGIAS NORMATIVAS (VENUTI, [1998] 2019) E COM BASE EM TEORIAS DOS ESTUDOS DA TRADUÇÃO QUEER (LEWIS, 2010), FOI FEITA UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRÊS DIFERENTES TRADUÇÕES: UMA PROFISSIONAL NORTE-AMERICANA, PUBLICADA PELA KODANSHA COMICS; UMA TRADUÇÃO AMADORA, TAMBÉM NORTE-AMERICANA, FEITA POR INTERMÉDIO DE SCANLATION (PRÁTICA EM QUE FÃS DIGITALIZAM O TEXTO-FONTE, O TRADUZEM E DISPONIBILIZAM NA INTERNET) (ARAGÃO, 2016); E UMA TRADUÇÃO AMADORA EM LÍNGUA PORTUGUESA, FEITA TAMBÉM POR MEIO DE SCANLATION. UMA TRADUÇÃO PROFISSIONAL PARA A LÍNGUA PORTUGUESA NÃO FOI ANALISADA DEVIDO AO FATO DE QUE, ATÉ O MOMENTO DA ESCRITA DESSE RESUMO, O MANGÁ NÃO HAVIA SIDO PUBLICADO OFICIALMENTE NESSA LÍNGUA. A ANÁLISE DOS DADOS DEMONSTRA QUE, APESAR DE A LÍNGUA INGLESA OFERECER A POSSIBILIDADE DE MANTER-SE A NEUTRALIDADE DE GÊNERO, DENTRE OS TEXTOS-META, APENAS A TRADUÇÃO PROFISSIONAL NORTE-AMERICANA MANTEVE O ELEMENTO QUEER PRESENTE NO TEXTO-FONTE, ATRAVÉS DO USO DE SUBSTANTIVOS NÃO GENERIFICADOS E EVITANDO O USO DE PRONOMES MASCULINOS OU FEMININOS. JÁ A TRADUÇÃO AMADORA PARA A LÍNGUA INGLESA OPTOU POR TRATAR XS PERSONAGENS NO MASCULINO, UTILIZANDO PRONOMES COMO “HE/HIM” E “MISTER”. NA TRADUÇÃO AMADORA PARA A LÍNGUA PORTUGUESA, POR OUTRO LADO, XS PERSONAGENS SÃO TRATADXS NO GÊNERO FEMININO, REFERINDO-SE A ELXS POR PRONOMES FEMININOS COMO “ELA” E “AQUELA”, ALÉM DE UTILIZAR O ARTIGO DEFINIDO “A” E PALAVRAS COM DESINÊNCIAS DE GÊNERO FEMININAS. DESSA FORMA, TANTO A TRADUÇÃO AMADORA PARA A LÍNGUA INGLESA QUANTO A PARA A LÍNGUA PORTUGUESA ELIMINAM COMPLETAMENTE A POSSIBILIDADE DE UMA LEITURA DXS PERSONAGENS COMO NÃO BINÁRIXS. CONTUDO, A NATUREZA DO GÊNERO GRAMATICAL DESSA ÚLTIMA IMPÕE UM GRANDE DESAFIO À REALIZAÇÃO DE UMA TRADUÇÃO QUEER DO TEXTO-FONTE. O PRESENTE ESTUDO DE CASO DAS TRADUÇÕES DO MANGÁ HOUSEKI NO KUNI DEMONSTRA QUE PERSONAGENS NÃO BINÁRIAS TENDEM A SER GENERIFICADAS EM SUAS TRADUÇÕES. ISSO PODE SE DAR DEVIDO A DIVERSOS FATORES: UMA LEITURA DESCUIDADA DO MATERIAL POR PARTE DOS TRADUTORES, A INTERPRETAÇÃO DO ELEMENTO QUEER COMO POUCO RELEVANTE, OU DIFICULDADES IMPOSTAS PELA PRÓPRIA LÍNGUA, COMO É O CASO DE LÍNGUAS COMO O PORTUGUÊS E AS DEMAIS LÍNGUAS NEOLATINAS, QUE POSSUEM GÊNERO GRAMATICAL. A LINGUAGEM É UM DOS MAIS IMPORTANTES ASPECTOS DO RECONHECIMENTO E ACEITAÇÃO DE IDENTIDADES (HORD, 2016). SENDO ASSIM, MANTER ESSES ELEMENTOS É UMA MANEIRA IMPORTANTE DE DAR A PESSOAS QUEER UMA MAIOR VISIBILIDADE E AJUDÁ-LAS NA LUTA CONTRA O PODER SUBJUGADOR DA HEGEMONIA HETERONORMATIVA (LEWIS, 2010). LOGO, ESTA PESQUISA PROPÕE UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DE UMA TRADUÇÃO QUEER COMO FORMA DE RESISTÊNCIA AOS PROCESSOS DE MARGINALIZAÇÃO E APAGAMENTO CAUSADOS POR USOS HETERONORMATIVOS DA LINGUAGEM.