O CANTO ? UMA DAS FORMAS MAIS LEG?TIMAS DE EXPRESS?O DA CULTURA POPULAR. POR MEIO DELE, UM POVO CONTA E RECONTA SUA HIST?RIA, MANIFESTA SUAS ALEGRIAS E DORES, BEM COMO DENUNCIA OS PROBLEMAS QUE O ASSOLAM. A PALAVRA ? CANTADA, NESSE CONTEXTO ? ? GARANTIA DE EXIST?NCIA E, MAIS DO QUE ISSO, DE RESIST?NCIA. NO BRASIL, O CANTO MESTI?O DO POVO CARREGA CONSIGO VOZES DE DIVERSAS ETNIAS QUE AQUI APORTARAM E CONTRIBU?RAM PARA A CONSTRU??O DE NOSSA IDENTIDADE. COMO BRASILEIROS, SOMOS DETENTORES DE UMA HERAN?A GEN?TICA E CULTURAL, ADVINDA DE UM COMPLEXO PROCESSO DE COLONIZA??O. EM MEIO A ESSAS VOZES, DESTACA-SE A DOS NEGROS, FOR?OSAMENTE EMIGRADOS DE SUAS TERRAS POR CONTA DO SISTEMA ESCRAVAGISTA ADOTADO PELOS PORTUGUESES. SUBMETIDOS A CONDI??ES DEGRADANTES E DESUMANAS, A PALAVRA FOI UM DOS POUCOS RECURSOS DE QUE DISPUSERAM PARA N?O SUCUMBIREM DEFINITIVAMENTE ? ESCRAVID?O. NESSE CONTEXTO, SURGE O JONGO, UMA MANIFESTA??O CULTURAL T?PICA DO SUDESTE DO BRASIL, ORIUNDA DOS BANTOS QUE PARA L? FORAM LEVADOS ENTRE OS S?CULOS XVII E XIX. TRATA-SE DE UM TIPO DE BATUQUE, REALIZADO EM C?RCULOS E DAN?ADO AOS PARES, NO QUAL O CANTO TEM PAPEL PRIMORDIAL. AS CANTIGAS ENTOADAS, CHAMADAS DE PONTOS, S?O DE GRANDE TEOR METAF?RICO. VALEM-SE, MUITAS VEZES, DE UMA LINGUAGEM CIFRADA QUE, NO TEMPO DA ESCRAVID?O, FIGURAVA COMO UMA FORMA DE COMUNICA??O VELADA. ASSIM, A PALAVRA ERA JOGADA NA RODA DE JONGO E, POR MEIO DELA, OS AFRICANOS ESCRAVIZADOS PODIAM SE COMUNICAR SEM SEREM ENTENDIDOS POR SEUS ALGOZES. HOJE, ELA SERVE COMO FORMA DE PERPETUAR ESSA TRADI??O SECULAR, QUE SOBREVIVEU AO MASSACRE E AINDA ? VIVA EM S?O PAULO, NO RIO DE JANEIRO, EM MINAS GERAIS E NO ESP?RITO SANTO. AL?M DISSO, ELA GUARDA CONSIGO MARCAS LINGU?STICAS QUE DENOTAM A PREVAL?NCIA DO ELEMENTO AFRICANO NO PORTUGU?S FALADO NO BRASIL. CONSIDERANDO A ESCASSEZ DE MATERIAL SOBRE O ASSUNTO, ? DE GRANDE RELEV?NCIA PROMOVER ESTUDOS QUE POSSAM DAR VISIBILIDADE A ESSE LEGADO, PRINCIPALMENTE EM TEMPOS NOS QUAIS O SILENCIAMENTO AINDA SE FAZ PRESENTE. DESSE MODO, O PRESENTE TRABALHO, DE CUNHO ANAL?TICO E DESCRITIVO, TEM, COMO OBJETIVO, ANALISAR OS PONTOS DE JONGO, OU SEJA, A PALAVRA JO(N)GADA, COM DESTAQUE PARA OS ASPECTOS LINGU?STICOS AFRICANOS NELA PRESENTES, SOBRETUDO OS FON?TICO-FONOL?GICOS, MORFOL?GICOS E LEXICAIS. PARA TANTO, O CORPUS SELECIONADO ? COMPOSTO POR C?NTICOS ENTOADOS NOS GRUPOS DE JONGO, ENTRE ELES O JONGO DO TAMANDAR? E O JONGO DITO RIBEIRO ? DE S?O PAULO ? BEM COMO O JONGO DA SERRINHA E O JONGO DO QUILOMBO DE S?O JOS? DA SERRA ? DO RIO DE JANEIRO. COMO REFERENCIAL TE?RICO, ANCORAMO-NOS NOS ESTUDOS DE AMARAL (2020); BEZERRA-PEREZ (2012); BRETON (2006); CASTRO (2014); GON?ALVES (2016); HUIZINGA (2014); PETER (2014); PETER; CUNHA (2015). TRATA-SE, PORTANTO, DE UMA PESQUISA DOCUMENTAL E BIBLIOGR?FICA, CONDUZIDA POR MEIO DOS SEGUINTES PASSOS: SELE??O DOS C?NTICOS JONGUEIROS, REVIS?O DE LITERATURA SOBRE O JONGO, A PALAVRA E OS ASPECTOS FON?TICO-FONOL?GICOS, MORFOL?GICOS E LEXICAIS DE INFLU?NCIA AFRICANA NO PORTUGU?S BRASILEIRO E AN?LISE DA PREVAL?NCIA DE TAIS ASPECTOS NO CORPUS SELECIONADO. OS RESULTADOS APONTAM PARA A EXIST?NCIA DE IN?MEROS ASPECTOS LINGU?STICOS, LEXICAIS, FON?TICO-FONOL?GICOS E MORFOL?GICOS, ORIUNDOS DE L?NGUAS AFRICANAS, TAIS COMO O QUIMBUNDO, O QUICONGO E O IORUB?, O QUE COMPROVA A PERPETUA??O DESSAS L?NGUAS, EM CERTA MEDIDA, NO TERRIT?RIO BRASILEIRO, BEM COMO A INFLU?NCIA QUE ELAS EXERCERAM NO PORTUGU?S AQUI FALADO. AL?M DISSO, FICA EVIDENTE A FOR?A DA PALAVRA JO(N)GADA, CAPAZ DE SE PERPETUAR AO LONGO DOS S?CULOS, N?O S? COMO TESTEMUNHO DO NEFASTO EPIS?DIO DA ESCRAVID?O, MAS SOBRETUDO DA RESIST?NCIA E DA PERPETUA??O DA CULTURA AFRICANA NO PAIS.