BRAGANÇA, Gustavo Moura. Invenções da infância - memória e imaginação. Anais V ENLIJE... Campina Grande: Realize Editora, 2014. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/5968>. Acesso em: 22/11/2024 00:40
A representação do universo infantil pelas palavras do escritor adulto correntemente se encontram com o discurso memorial. A infância é tempo perdido, mas reencontrável pela linguagem - pela linguagem que dialoga com sua in-fância: a literatura enquanto reinvenção da linguagem. Este trabalho visa discutir a representação do universo infantil em obras de destacados autores da literatura de língua portuguesa a partir da chave da invenção como representação da memória e do imaginário infantil à suspensão das fronteiras entre verdade e mentira. Trata-se da verdade da mentira e da mentira enquanto invenção. Serão objetos de estudo obras dos seguintes autores: Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Valêncio Xavier, Fernando Pessoa, Manoel de Barros, destacando-se a representação da infância em "Bom Dia, Camaradas", prosa do escritor angolano contemporâneo Ondjaki. O objetivo é atravessar e aproximar leituras breves de obras selecionadas dos citados autores; obras em que a infância é abordada, sobretudo, a partir da perspectiva da memória, entrelaçando, nesse movimento, o olhar do adulto-escritor ao do menino-escrito reinventado à distância do tempo a partir dos vôos da ficção. A ficção que poderá, então, ser compreendida enquanto emulação da imaginação infantil; enquanto a escrita literária, por sua vez, aparecerá como ponto de encontro entre o universo infantil e o mundo adulto. Em "Bom dia, camaradas", romance que servirá como centro desta comunicação, a infância do autor se inscreve na literatura em meio ao clima latente da guerra em uma Angola recém-independente (dos anos 1980), em um tempo de intensas transformações sociais e políticas naquele país. Este mundo pesado e intenso é-nos apresentado, por Ondjaki, pela leveza do olhar do menino lembrado e seus amigos, perspectiva através da qual a violência à espreita e as incertezas da realidade social se inscrevem, sem derrotá-la, na imaginação das crianças a reinventar o mundo em que vivem, enquanto pouco a pouco perdem a infância e adentram, mais e mais, no mundo dos adultos. Complementando essa leitura, aproximaremos a narrativa do romance memorial e a representação do universo infantil com obras infanto-juvenis do mesmo autor, como "Uma escuridão bonita", "O voo do golfinho" e "O leão e o coelho saltitão".