O presente trabalho tem como principal objetivo perceber, sob a ótica da psicanálise, de que forma e até que ponto o desenho animado pode se inserir no imaginário e na vida da criança, por representar para esta, mesmo que de forma inconsciente, seus medos, angústias e desejos reprimidos. O objeto de análise escolhido foi o desenho animado Pica-pau, por ser um personagem muito popular no meio infantil, que atravessou várias gerações. A metodologia empregada consistiu na transposição da técnica utilizada por Bettelheim (2002), na qual o autor apresenta uma análise bastante consistente acerca do modo como os contos de fada operam no inconsciente ou pré-consciente da criança. Além de Bettelheim (2002), o aporte teórico toma como contribuições os estudos de Campos (2013); Freud (1996) e Figueiredo (2004). Ao final da análise percebemos que, assim como ocorreu com os contos de fada, alguns desenhos animados, a exemplo do Pica-pau, sofreram censura por não representarem o ideal aceito pela sociedade e acabaram sofrendo alterações que acarretaram na perda de sua essência enquanto imagem dotada de sentido para a criança. No entanto, ocorre que, no que tange ao objeto desta análise, o Pica-pau ganhou o estereótipo de má-influência pelo seu comportamento descrito como agressivo, desonesto e perigoso. Entretanto, entendemos que sua “má-fama” advém do fato de ele ser visto, muitas vezes, de forma caricata e superficial. Desse modo, concluímos que, mesmo sendo debochado e com trejeitos de malandro, o Pica-pau representa um herói para a criança, no sentido de que é exatamente o ideal de personalidade de muitas delas.