O principal marco brasileiro concernente à gestão dos resíduos sólidos urbanos é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Dentre os principais avanços, a PNRS compartilha as responsabilidades do ciclo geração/destinação dos resíduos com todos os segmentos da sociedade civil, bem como, reconhece o papel do catador como ator social central no processo de gerenciamento dos resíduos, obrigando os gestores públicos a oferecer as condições necessárias para o fomento de organizações solidárias, oportunizando emprego e renda aos catadores. Todavia, apesar dos avanços legais, têm-se observado poucas ações concretas que os retirem da situação de vulnerabilidade no qual estão imersos. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho é estudar a percepção de catadores de materiais recicláveis organizados quanto à sua condição de vida após entrada na associação. Para isso, foram analisadas quatro dimensões: moradia, emprego, lazer e expectativas futuras. A associação estudada está localizada em um município da microrregião Seridó, interior do Estado do Rio Grande do Norte. Inicialmente, foi realizado uma consulta prévia aos membros associados acerca da possibilidade do estudo, de modo que se fixou os compromissos éticos da pesquisa. Em seguida, foi realizada uma entrevista com todos os associados, abrangendo as quatro dimensões supracitadas. Posteriormente, foi aplicado um formulário a respeito da estrutura e organização do trabalho implementada na associação. Como artifícios metodológicos, o estudo adotou pesquisa de natureza qualitativa por meio das técnicas de observação direta intensiva e do Discurso do Sujeito Coletivo. A pesquisa ocorreu durante o mês de novembro de 2016, abrangendo todos os 11 catadores.
Como breve apresentação, a maioria dos entrevistados são mulheres com ensino fundamental e faixa etária distribuída entre 26 a 54 anos, com média de 41 anos. Em relação à moradia, nenhum catador possui casa própria, de modo que 72,7% moram de aluguel e o restante, dividem a mesma moradia com os pais ou tem o espaço cedido pelos mesmos. No que concerne ao emprego, a maioria afirmou que, apesar de gostar do que faz, o emprego na associação não garante uma renda suficiente para viver. Por esta razão, 63,6% realizam outros trabalhos para complementar a renda. Quanto ao lazer, 72,7% afirmaram não possuir, de modo que nas horas livres apenas descansam, enquanto o restante, afirmou utilizá-lo plantando. Já no que concerne às expectativas futuras, os catadores afirmaram que gostariam de ganhar mais para comprar a casa própria (72,7%), dar conforto aos filhos (18,2%) ou não serem descriminados pelas pessoas (9,1%). Desse modo, mesmo com os avanços legais é preciso criar mecanismos que garantam o cumprimento das prerrogativas de inclusão social, por meio da garantia de cobertura de Seguridade Social, ambiente de trabalho com mitigação dos riscos ocupacionais e dignidade traduzida em salário e reconhecimento social. Somente um investimento público forte e a valorização destes trabalhadores frente a opinião pública, tendo como norteador a educação ambiental, garantirá o cumprimento pleno das prerrogativas legais e, consequentemente, a qualidade de vida destes trabalhadores.