Séculos após o início da colonização do território brasileiro, viajantes vindos da colônia americana inglesa (atual Estados Unidos) se depararam com o mesmo manejo agrícola que os índios norte-americanos utilizavam para cultivar milho (HOLANDA, 1995). Hoje, mesmo com o avanço da técnica e da ciência, a estrutura agrária não se diferencia expressivamente do período colonial e o desenvolvimento que tanto é empregado pelos agroempreendedores como argumento para que se fixem nos territórios, se apresenta como algo que deve ser questionado. O presente trabalho possui como objetivos apontar as desarmonias entre o agronegócio e o seu discurso de modernidade, e discutir a realidade atual do semiárido quanto à existência de latifúndios agrícolas. Para a obtenção dos resultados, foi utilizada pesquisa em bibliográfica a fim de conhecer e analisar as produções a respeito deste tema, foi adotada uma abordagem quali-quantitativa. Atualmente o agronegócio brasileiro gloria-se de modernidade e desenvolvimento, mas sua estrutura remonta ao século XVI. O latifúndio, um dos principais elementos do modo de produção colonialista continua se perpetuando, e a concentração de terras no semiárido também. Na região, “cerca de 1,5 milhão de famílias agricultoras ocupam apenas 4,2% das terras agricultáveis do semiárido, ao passo que 1,3% dos estabelecimentos rurais com mais de 1 mil hectares, [...], detêm 38% das terras” (ASA, 2015). Esses dados nos mostram o quão desigual se apresenta a posse de terras pelas partes integrantes da produção agropecuária no semiárido. Embora o discurso do agronegócio, aqui compreendido como “toda a relação comercial e industrial envolvendo a cadeia produtiva agrícola ou pecuária” (AGRON, 2016) defenda o desenvolvimento para os territórios aonde se instala, a realidade não é exatamente essa. Um dado muitíssimo relevante é o de que para cada 1 emprego gerado no agronegócio, 11 lavradores são expulsos de suas terras (CANUTO, 2004). O agronegócio não configura o espaço geográfico de modo que os interesses sociais sejam levados em consideração, pelo contrário, “o território do agronegócio se fundamenta na integração corporativa dos produtores liderada pelas empresas que reconfiguram o espaço em função da lógica produtiva” (FONSECA, 2012, p. 9). Fica nítido, então, que o discurso não está em sintonia com a realidade, principalmente no semiárido, que compreende uma região historicamente negligenciada por políticas públicas de desenvolvimento econômico. Vemos, na verdade, um conjunto de interesses que se apropria de um território, perpetuando condições estruturais, a exemplo da concentração de terras e consequente manutenção dos latifúndios. Não se pode falar de agronegócio e negligenciar a discussão a respeito do uso de agrotóxicos, o que constitui um problema de saúde pública e ambiental, que constituem mais variáveis na análise das atividades agropecuárias no semiárido, e que, também, não expressam avanços. Segundo Ferreira e Viana Junior (2016, p.2), os trabalhadores rurais das cidades do Baixo Jaguaribe no interior do Ceará, na região do semiárido, são um exemplo disto. Análises dos trabalhadores após a ida de empreendimentos agrícolas para a região, mostraram que houve um aumento significativo nas taxas de internamento por neoplasia, e que a taxa de mortalidade por câncer é 38% maior que nas cidades vizinhas. Deste modo, podemos refletir a forma como o discurso de desenvolvimento adotado pelo agronegócio para sua instalação em territórios do semiárido dissimula a sua estrutura que remonta ao período colonial, negligenciando ao meio ambiente a as condições sociais da população, além de perdurar a concentração de terras, e as desigualdades por ela gerada.