No período anterior à República, leitura e escrita eram práticas culturais restritas a poucos e a transmissão ocorria de forma assistemática. Poucas “escolas” no Império ofereciam “aulas régias”. O período republicano, a escrita recebe novas características: passando a objeto da escolarização; considerada base da escola, a partir daí entendida como obrigatória, laica e gratuita; o ensino passa a ser organizado, sistemático e intencional, instaurando-se a demanda para a preparação de profissionais tecnicistas para ao mercado de trabalho. A apreensão da escrita insere o sujeito na sociedade. Um rito de passagem para um mundo novo, da cultura letrada, onde acumular conteúdos leva o sujeito a pensar de modos distintos, de acordo com cada situação. Mas, não acontece bem assim, saber escrever concede ao sujeito uma identidade. Afinal, ele aprende a escrever o próprio nome. Essa identidade leva o sujeito a ter outra relação entre si, entre os sujeitos, com a própria história e, consequentemente, com a sociedade. Cópias de textos, soletração de palavras, as memorizações das cartilhas ABC tinham um propósito: desenhar letras, daí a imposição de que os alunos tivessem um caderno de caligrafia. Eu mesma fiquei de castigo muitas vezes por escrever com as duas mãos, vez que as professoras não admitiam que escrevesse com esquerda. Indagava-me: “Que importa escrever com as duas mãos? ”; elas respondiam, “a letra”, com a mão esquerda, “fica feia”. Saber ler e escrever conferia ao brasileiro a condição de portador de identidade e, mesmo que não fosse a sua, ainda assim uma identidade