Na Inglaterra vitoriana (1830-1901), a moral e os valores desempenhavam um importante papel social e deveriam ser mantidos a qualquer custo, a fim de preservar a seriedade e constância (earnestness) do sujeito. Os romances escritos dentro desse período histórico descrevem e exemplificam com clareza, através da trajetória de vida dos protagonistas, que sua formação, desde a infância até a vida adulta, atravessa diversos conflitos sociais e morais. Um desses romances, corpus do presente trabalho, é The Tenant of Wildfell Hall, da escritora Anne Brontë. A obra da mais jovem dentre as três aclamadas irmãs Brontë apresenta para seu leitor um “quadro perfeito do ser mulher" na Era Vitoriana, pois a protagonista heroína da obra (Helen) representa um modelo a ser seguido de acordo com os moldes femininos da época (GREENBLAT, 2006, p. 979 - 1001). Anne Brontë, filha de um reverendo da Igreja Anglicana em Yorkshire, expõe em sua obra um vasto conhecimento religioso cristão que permeia todo o texto, ao ponto de as condutas e ações das personagens serem ancoradas e julgadas pela observância à moral religiosa ou pela ojeriza a esta. A protagonista mostra-se como um anjo doméstico que, obedecendo ao enquadre feminino do período vitoriano, intercede por alguns personagens e especialmente por seu marido, com o intuito de reformá-lo e convertê-lo. Temos por objetivo, respaldados pelas características deste romance de formação - terminologia que se adequa a esta narrativa, visto que, de acordo com Georg Lukács, a protagonista encontra-se no lugar do sujeito moderno, que busca conciliar seus princípios e sonhos com a adversa realidade que a cerca ao longo de sua trajetória formativa (LUKÁCS, 2000) - tecer considerações acerca do processo formativo moral da protagonista, e de suas intervenções na conduta e na formação de alguns personagens. Analisaremos também, através de excertos de The Tenant of Wildfell Hall, como se dá a aprendizagem da vida por meio do viés religioso cristão, e como o moralismo é apresentado na obra, tornando-a, até certo ponto, catequética. Pela atualidade da obra, acreditamos que sua temática pode ser abordada nas aulas de inglês do ensino médio, por meio da leitura de trechos da obra, e por meio da relação que pode ser estabelecida entre o contexto religioso e feminino vitoriano e o contexto atual brasileiro, sendo este um caminho bastante proveitoso para fomentar discussões acerca da diversidade religiosa, e das diferentes visões religiosas sobre o feminino. A leitura de textos literários nas aulas de língua estrangeira propicia ao aluno a possibilidade de ampliar sua visão sobre outras culturas e sobre como certos valores são retratados em outras épocas, construindo uma ponte com a realidade local e temporal em que se lê a obra (TIBERIO, 2014). Ao fomentar discussões deste caráter, atendemos ao que preconizam os PCNs no que diz respeito aos temas transversais e à relação entre linguagem e sociedade (BRASIL, 2000).