Na literatura infanto-juvenil, até pouco tempo, as crianças com seus pontos de vista, suas percepções acerca da realidade na qual está inserida, não eram trazidas à baila na produção literária infantil. Em um viés oposto a esta situação na qual prevalecia a visão adultocêntrica na construção dos textos, os contos de fada contemporâneos Minha mãe trouxe um lobo para casa e A coleção de bruxas de meu pai, já produzidos na década final do século XX, concedem à criança a posição de narrador homodiegético, logo, é pela visão infantil que o leitor compreende e interpreta as narrativas. Rosa Amanda Strausz, autora das obras supracitadas, conduz o leitor, por meio destes contos de fada, a contemplar os dilemas cotidianos que envolvem as famílias. Estabelecemos como propósito, neste artigo, analisar em ambos os textos literários, o lugar e a voz dados à criança nestes contos de fada, expondo como a criança compreende a chegada de novos integrantes em sua família. Partimos de uma pesquisa interpretativa de base documental. Percebeu-se que as crianças interpretam os recém-chegados como violões invasores – lobo e bruxas, figuras personificadas como entidades malignas no imaginário infantil. Dentre outros teóricos, baseamo-nos em Zilberman e Magalhães (1987), quanto à emancipação da criança na literatura, e Coelho (2000), quanto à estrutura das narrativas infantis.