É sabido que a literatura afro-brasileira se fez nascer por meio da narração de contos orais africanos que foram se misturando com as referências locais. Contudo, inserida em contextos sociais e políticos, essas histórias foram silenciadas e permaneceram à margem dos livros literários por longas décadas. O interesse pelas temáticas afro-brasileiras só ganhou novos e maiores contornos com a promulgação de alguns marcos legais, a exemplo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e da Lei 10.639/03. A partir disso, visando reorganizar-se para cumprir a demanda de vendas que seria feita tanto para órgãos públicos quanto para a nova classe leitora, as editoras começaram a investir nas narrativas denominadas como afro-brasileiras, entre elas as adaptações dos contos populares europeus. Sendo assim, usando como corpus os livros que compõem a coleção ‘De lá para cá’, da Mazza Edições, além de entrevistas realizadas com os escritores, ilustrador e a editora responsável por essa coleção, teceremos um estudo teórico-analítico dessas adaptações, de modo a discutir como os seus idealizadores se apropriam de textos oriundos das culturas coloniais para adaptá-los a um novo contexto e a um novo público. Ademais, analisaremos, sobretudo, como essas adaptações, através de seus textos verbais e visuais, funcionam como respostas às ideologias presentes nos textos europeus e promovem a emancipação de seus novos leitores, As nossas discussões estarão embasas nos estudos desenvolvidos por Ceccantini (1997), Oliveira (2008), Zolim (2009), Hunt (2010) e Hutcheon (2013).