A mulher que matou os peixes de Clarice Lispector desautomatiza a literatura que visa apenas o encantamento infantil. Em A Mulher que Matou os Peixes, a própria Clarice se dá a um júri infantil frente a catástrofe. O mistério está na linguagem que redesenha o luto, seduzindo o leitor infantil em uma comunicação que abre diálogo e se conquista, o interdito do tema maior aqui é suplantado em todas as narrativas que dão substância à trama do convencimento da inocência da própria Clarice: A morte e suas reverberações e temas relacionados. Um livro que descortina o mundo da perda de forma suave, pondo no centro os bichos, tema recorrente na prosa clariciana e também foco de especulação deste trabalho. Clarice convida ao feito do verbo conhecer. O ato da comunicação firmado na confiança interessa a Clarice Lispector, porque só pela confiança no outro se supera o trauma. Buscamos investigar os mecanismos da linguagem clariciana que enreda o leitor infantil e o faz trilhar o caminho do encontro com os tabus que na infância moderna nos são afastados de vista como a violência e o abandono. A partir do enredo simples e provocativo buscamos comprovar o ponto de que os interditos são superados e assimilados a medida do afeto e da objetividade, numa linguagem que não subestima, mas convida à superação. Culpada ou refém do acaso, o ponto aqui é pôr a mão das crianças a decisão da problemática, introduzindo-os à maturidade sentimental do julgamento social.