Na literatura juvenil as representações construídas pelos personagens são consideradas como uma produção cultural, uma vez que retomam a sociedade e delimitam os modelos aceitos e rejeitados. A definição do horizonte de expectativa do leitor passa, então, pelo reconhecimento dos personagens, por sua valorização e pelo entendimento desses como participantes do seu universo, uma vez que, a literatura como atividade de comunicação entre os homens, precisa ser pensada a partir da sua recepção e da sua interação com o leitor. Dentro dessas premissas, comumente, são direcionadas para o leitor juvenil as narrativas de suspense. Em Coraline (2002) Neil Gaiman conta o cotidiano de uma menina de onze anos que acaba de se mudar para um apartamento numa casa muito antiga com 22 janelas e 14 portas. Treze portas abrem e fecham, mas uma delas abre para um outro apartamento ou para uma parede de tijolos conforme a hora e a ocasião. A narrativa se constrói pelo suspense através do imaginário, em que os elementos de tensão são os próprios medos do abandono e da solidão. Para ler o leitor do romance de Gaiman procedemos ao estudo da construção do leitor implícito e dos seus pressupostos textuais, tomando como ângulo analítico os elementos formais da narrativa. Utilizamos os estudos sobre experiência estética de JAUSS (1973) e teorias do leitor implícito de ISER (1981), além de JOUVE (2001) sobre leitura e configurações do leitor. Sobre literatura assumiremos os pressupostos metodológicos sobre linguagem do imaginário de HELD (1980) e sobre discurso do narrador HUNT (2010).