Ao longo do seu desenvolvimento, a profícua obra eciana vai adquirindo novos contornos, que, por vezes, se distanciam dos objetivos centrais das primeiras narrativas essencialmente ligadas ao projeto realista, ainda que sem os abandonar totalmente. A trajetória de suas obras posteriores vai- se multifacetando e ganhando feições diferenciadas que apontam para uma transformação, sobretudo da matéria-prima utilizada como fonte pelo escritor. Se, em seus primeiros romances o autor focalizava primordialmente o Portugal contemporâneo, num constante propósito do espelhamento realista propagado nas Conferências do Casino, nas obras seguintes há um alargamento desse olhar; O monóculo amplia-se, a fim de buscar outras matérias, ainda que apontem, em última instância, para a análise mais profunda do seu tempo, análise que, atenta ao diagnóstico da dinâmica social, foge ao documentário, à exibição imediata própria à representação estritamente realista. É justamente dentro desse período de ampliação dos materiais, que surgem os contos que tomamos como objeto do presente trabalho. Pretendemos analisar, a produção contística eciana a partir da presença do diálogo com algumas matrizes culturais ocidentais: a Bíblia sagrada e a literatura clássica e a literatura de tradição oral. Em contos como Adão e Eva no Paraíso, Suave Milagre, A perfeição, Civilização, O Tesouro e A Aia, Eça de Queirós lança-se sobre recursos intertextuais e cria narrativas singulares que trazem tintas novas à sua obra.