O objetivo da comunicação é detectar as vertentes da profunda influencia que Jean-Jacques Rousseau exerceu na vida e na obra de Lev Tolstói e, também, analisar diferentes formas de relações dialógicas que se estabeleceram entre o escritor russo e o pensador suíço. Sabe-se que Lev Tolstói leu pela primeira vez as obras de Rousseau, quando tinha 15 anos. O impacto foi tão grande que o jovem Tolstói passou a usar uma medalha com o retrato de Rousseau. Desde então, o filosofo suíço se tornou um grande interlocutor de Lev Tolstói em sua criação literária, pedagógica e filosófica, além de inspirar o próprio modelo de vida de Tolstoi. Mas depois do período de “idolotração” de Rousseau na juventude, vem uma reflexão madura sobre todos “pros” e “contras” do pensamento do filósofo suíço. Interessa-nos a analise comparativa do conceito de “homem natural” e sua contraposição à civilização no pensamento e na criação de Rousseau e Tolstói, assim como o reflexo deste conceito em alguns dos principais obras do escritor russo: “Os cossacos”, “Guerra e paz” e “Ressurreição”. Outro aspecto de relações dialógicas será apresentado por meio da analise dos gêneros autobiográficos na criação de Rousseau e Tolstói. A inspiração de “Confissão”, de Rousseau, fica nítida nas primeiras páginas dos diários que Tolstói começa a escrever com 19 anos de idade. Em princípio, a influência desta obra de Rousseau foi muito importante para a evolução da prosa realista russa dos anos 1830-40: “Confissão” tornou-se uma referencia em desenvolvimento do realismo psicológico dos escritores russos. Como aponta uma das mais importantes estudiosas da “prosa psicológica”, Lídia Guinsburg, depois de várias obras sentimentalistas e românticas, inspiradas por “Emílio” e “A nova Heloisa”, de Rousseau, vem a hora de “Confissão” com sua nova personagem cujo “eu” e cuja individualidade impar se tornam um objeto de uma analise e autoanalise detalhadas. Neste contexto de ideias situa-se a importância do famoso procedimento artístico de Tolstói que foi denominado “a dialética de alma” que está presente tanto na tessitura de seus “ego documentos”, quanto na criação dos personagens de ficção.