No início de 2011, em um expressivo achado arqueológico na zona portuária do Rio de Janeiro, foram encontradas as pedras do cais por onde desembarcaram centenas de milhares de escravos africanos a serem vendidos no antigo mercado do Valongo, tido como o maior do gênero no Brasil nos séculos XVIII e XIX. Este artigo discute como emerge –– nas superfícies urbana e imaginária da cidade -- um lugar associado a um passado que, de diferentes formas, se quis esquecer. Testa, para tanto, a produtividade, no campo da cultura, da noção de “lugares de memória”, do historiador francês Pierre Nora, para ler a apropriação que o poder público e atores sociais fizeram deste espaço nos últimos dois anos