Em seu processo de escrita, Machado de Assis, como bem sabemos, retoma constantemente autores e obras conhecidos em um trabalho intertextual que por vezes incorpora o referencial ao seu próprio texto, originando um diálogo crítico em que predomina uma hermenêutica muito pessoal. Trata-se de um procedimento que recontextualiza o referente para originar novas possibilidades de significações a partir de determinado material. É um pouco disso o que podemos observar no conto “Antes que cases”, publicado pelo escritor no Jornal das Famílias, no ano de 1875. Nessa narrativa, Machado retoma a tragédia de Romeu e Julieta, de Shakespeare, colocando situações definidoras de seu entrecho em um contexto bastante adverso e a partir de um tratamento que ironiza e subverte o material canônico. Na narrativa, Alfredo Tavares sonha em encontrar a sua Julieta. De maneira um tanto quixotesca, o personagem vai em busca de um modelo de amada e de amor que a experiência o leva a perceber que não existem; tudo isso em meio a um discurso repleto de um humor fino que ironiza sutilmente referenciais estereotipados no que diz respeito às questões de amor. A proposta deste trabalho é analisar a presença da tragédia no conto em questão, buscando discutir de que maneira Machado se vale de referenciais da peça para, em diálogo com ela, criar um contexto outro, que expressa como concebe algumas questões relativas ao amor e ao relacionamento amoroso em seu mundo contemporâneo.