A meningite eosinofílica é caracterizada pela presença de eosinófilos no líquido cefalorraquidiano, e está frequentemente associada a uma reação inflamatória gerada por agentes infecciosos, tais como vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos. Dentre os helmintos já conhecidos por causar algum comprometimento cerebral, destaca-se o Angiostrongylus cantonesis, parasita cujo ciclo evolutivo ocorre no sistema arterial de roedores, canídeos e felídeos, com a presença de vermes adultos nestes animais, enquanto que os estágios larvários desenvolvem-se em moluscos, tais como caramujos, caracóis e lesmas. Esta parasitose era considerada exótica há alguns anos, e sua ocorrência recente certamente está ligada a mudanças ambientais geradas pela introdução de um potencial vetor – um molusco trazido da África para servir de alimento humano – o Achatina fulica. Deste modo, o objetivo deste trabalho é discutir a ocorrência de casos recentes de meningite eosinofílica ocorridos no Brasil e verificar sua possível relação com a parasitose por Angiostrongylus cantonesis e, especialmente, a relação desta infecção com a presença do caracol gigante africano, o molusco Achatina fulica. Foi realizada uma revisão de literatura narrativa de caráter exploratório e documental, sobre o parasita Angiostrongylus cantonesis e o molusco Achatina fulica. Há evidências de que o helminto pode infectar diversos tipos de moluscos, incluindo algumas espécies nativas do Brasil. Deste modo, pode-se considerar que a infecção por Angiostrongylus cantonesis no Brasil é uma parasitose grave e emergente, o que deve alertar as autoridades para a criação de mecanismos de vigilância epidemiológica específicos para detectar casos suspeitos de meningite eosinofílica.