As tecnologias de comunicação digital estão tornando a informação mais acessível para cidadania em processos que estão transformando as relações. Para pessoas trans, essas lhes permitem encontrar espaços nos quais podem compartilhar suas vivências e gerar debates importantes sobre como representar-se e pensar a si mesmas. Por outro lado, aspectos inerentes à vivência online –condições como persistência dos conteúdos, replicabilidade, escalabilidade e buscabilidade, bem como sua dinâmica com audiência invisível, contextos colapsados e a fluidez entre o público e o privado – impedem que alguns sujeitos trans que optam por não revelar aspectos de seu passado anteriores a transição tenham o controle sobre o manejo de dados digitais. A partir do relato de uma mulher trans, se articulam diálogos teóricos com a finalidade de criar aproximações entre debates acerca da privacidade online e as questões trans, a passabilidade e a autodeterminação nos espaços mediatizados, ou seja, procura entender as implicações das tecnologias digitais no conceito de passabilidade por meio da vivência de pessoas trans. A passabilidade, conforme de Marta Lamas, é entendida como característica de sujeitos conseguirem apagar ao máximo seu sexo imposto ao nascer e colocar em si características sociais da identificação de sexo que deseja ser reconhecido. É uma ação que aponta para produção social do gênero quando tais sujeitos trabalham sua imagem e sua gestualidade para dissimular aspectos de sua condição trans como estratégia de sobrevivência ao rechaço e à discriminação. Trata-se, assim, da questão do direito a desindexar dados dos resultados de provedores de busca e de redes sociais online, da co-propriedade da informação e da co-gestão dos limites da privacidade.