A literatura é uma maneira de representar, criticar as práticas, pensamentos e ações de uma sociedade através de seus enredos e personagens. As identidades de gênero são processos complexos, impostos pela sociedade na qual estamos inseridos, seja por nossos pais ou por amigos, designando modelos normativos únicos e constitutivos das subjetividades dos indivíduos. Face um contexto social no qual a base foi o patriarcalismo e suas relações de poder, a mulher foi apresentada social e culturalmente na literatura como ser inferior e submisso ao homem. Tradicionalmente, os homens estabeleceram o seu domínio sobre as mulheres ao longo dos tempos. A polaridade masculina de não poder chorar, não demonstrar seus sentimentos, não ser fraco, covarde, perdedor e passivo nas relações sexuais, entre outros e a feminina de ser frágil, delicada, maternal, dependente, cuidadora da família, submissa, entre outros são características na constituição dos traços e papéis sociais de cada um. A presente pesquisa tem por objetivo investigar as representações femininas no Auto da Compadecida de Ariano Suassuna através da análise das personagens femininas Rosinha (filha do Major Antônio Moraes) e Dora (mulher do padeiro). A análise se baseou nos pressupostos teórico-metodológicos da Crítica Literária Feminista e dos Estudos Literários, considerando o contexto histórico, social, político e discursivo, a partir de uma pesquisa exploratória e qualitativa. Os resultados indicam que as personagens são representações das identidades femininas tradicionais, presas aos padrões patriarcais, embora haja uma tentativa de desvinculação dos mesmos.