Este trabalho é fruto de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo investigar as estratégias desenvolvidas pelos grupos de “católicos LGBT” brasileiros para permanecerem dentro do campo eclesial. Enfoco especificamente o grupo “Diversidade Católica”, do Rio de Janeiro, que, sendo o primeiro desses grupos no Brasil, apresenta trajetória e discurso representativos; analiso sua produção discursiva pública, principalmente aquela encontrada em suas várias plataformas online. Face ao contexto mais amplo de tensionamentos e conflitos que vêm assumindo a forma pública de embates entre atores do campo da diversidade sexual e de gênero e atores que se expressam em linguagem religiosa, sobretudo cristã, busco problematizar “antíteses perfeitas” entre religião e sexualidade, buscando sínteses possíveis – observando, por exemplo, a dimensão positiva do poder que, ao estabelecer hierarquias, ao mesmo tempo exclui e gera novas categorias identitárias. Com efeito, os dados da pesquisa apontaram como a “saída do armário” dos “católicos LGBT” opera uma dinâmica de visibilização e apropriação de espaço. A partir dessa “tomada da palavra”, dessa afirmação de uma verdade sobre si mesmos, dessa recusa da verdade sobre si que a autoridade eclesial pretende lhes impingir, os “católicos LGBT” ultrapassam a perspectiva da vitimização, tornam-se criadores do próprio espaço que habitam e geram novos sentidos no campo eclesial. Nessas dinâmicas, vislumbram-se as possibilidades de escapar à redução unívoca do “religioso” ao “conservador” e contribuir para uma reapropriação da linguagem religiosa em termos que sejam favoráveis à liberdade e à diversidade sexual.