A prostituição, enquanto prática comercial, não é proibida pela legislação brasileira, a não ser levando-se em conta alguns fatos que podem configurar crime de aliciamento e exploração sexual: um deles envolve a idade do praticante e, além disso, se o mesmo está sendo forçado por outrem a exercer a profissão. Nesse sentido, é importante destacar que a nossa sociedade, fundamentada e regida por valores judaico-cristãos, não vê com bons olhos os sujeitos que, por alguma razão, se valem desse meio de vida para se sustentar e, por isso, despreza-nos e deseja que sejam relegados e segregados na escuridão da noite. No entanto, na literatura, por vezes, irrompem representações de um feminino envolvente e sedutor que põe em xeque as noções de moralidade, na medida em que, para realizar os seus anseios, arrisca-se a ultrapassar as fronteiras dos interditos e tabus estipulados no que concerne à sexualidade. É a conjuntura em que Bruna Surfistinha, autora da obra O doce veneno do escorpião, publicada em 2005, se encontra. Na narrativa em foco, a garota retrata como e por quais caminhos ingressou no meretrício, chegando a ascender socialmente com a repercussão de seu blog na internet. Nossa pesquisa, numa conexão entre os estudos psicanalíticos de base (pós)freudiana e as contribuições sócio-históricas de ROBERTS (1998), pretende investigar, no corpus em cena, o caso desta personagem que foi capaz de abdicar do conforto e das finanças de seus pais para poder ser, conforme defende, feliz. Estamos diante de uma personagem sem pudor e hábil na arte da sedução.