Neste artigo, tomamos como enfoque teórico-metodológico o Sociofuncionalismo, uma interface entre os pressupostos da Sociolinguística Variacionista Laboviana e do Funcionalismo Linguístico Norte-americano (TAVARES, 2003; 2013; GÖRSKI; TAVARES, 2013). Esse casamento teórico é possível, uma vez que, embora existam divergências entre eles, há também pontos de convergências. Nosso corpus tem como base o Banco Conversacional de Natal (CUNHA, 2010), única amostra de conversações espontâneas disponível, até o momento, no Rio Grande do Norte. Embora o Banco seja composto por vinte conversações gravadas, para nossa pesquisa, selecionamos apenas doze, considerando as que apresentavam maior número de ocorrências dos pronomes TU e VOCÊ na função de sujeito. Nosso objetivo principal, neste artigo, é apresentar os resultados do mapeamento das tendências de especialização (HOPPER, 1991) dos pronomes supracitados na amostra anteriormente citada. Os resultados a que chegamos nos direcionam para o seguinte entendimento: em Natal, há nichos de especializações preferenciais para o uso do TU. O que aponta para: (i) o TU predomina na conversação envolvendo indivíduos em relação de amizade e no ambiente de conversação caracteristicamente informal; (ii) o VOCÊ predomina nas demais relações entre interlocutores observadas no corpus e no ambiente de conversação mais formal. Considerando os cinco princípios de gramaticalização propostos por Hopper (1991), um deles merece destaque neste trabalho: o da especialização. Este diz respeito ao período em que, avançando-se o processo de gramaticalização, ocorre a redução do número de formas a serem empregadas para a expressão de determinada função gramatical. Havendo mais de uma forma para uma mesma função, uma delas sendo dominante, pode ocorrer a especialização. Assim, uma das formas adquire um significado mais geral, e, possivelmente, elimina as outras que com ela competem. Desse ponto de vista, a especialização diminuiria ou extinguiria a competição. É o que Hopper (1991) denomina de especialização por generalização. Já Tavares (2003) aponta que, para além desse tipo de especialização, há a possibilidade de haver a especialização por especificação: as formas de um mesmo domínio funcional, ao adquirirem significados mais específicos e/ou passarem a ser empregadas em contextos semântico-pragmáticos e/ou morfossintáticos específicos, eliminariam a competição. Não porque seriam excluídas ou generalizadas para todas as funções de determinado domínio, mas porque cada uma seria utilizada em determinadas funções e/ ou contextos particulares pertinentes a certo domínio. Diante de nossos resultados, podemos afirmar que a variação entre os pronomes sujeito TU e VOCÊ na conversação de Natal parece se caracterizar como um caso de especialização por especificação conforme aponta TAVARES (2003).